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Resumo da Parashá V’Zot HaBerakhah (Deuteronômio 33:1-34:12)

A Parashá V’Zot HaBerakhah, que significa “E esta é a bênção” em hebraico, é a última porção semanal da Torá. Nela, Moisés abençoa cada uma das tribos de Israel, excluindo a tribo de Simeão. Ele então sobe o Monte Nebo, vê a Terra Prometida, Canaan, e morre aos 120 anos de idade. Os israelitas choram, e a porção termina destacando a grandeza incomparável de Moisés. A leitura completa é de Deuteronômio 33:1 até 34:12.

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O povo israelita é abençoado com a Instrução Divina.

No final de sua vida, assim como seus patriarcas antepassados fizeram, Moisés pronuncia bênçãos sobre os israelitas. Elas vão do v. 1 até o 25 de Deuteronômio 33.

Dos vs. 26-29 Moisés destaca como o povo de Israel é privilegiado ao ter o ETERNO como seu Deus, que é seu escudo e sua espada contra seus inimigos.

Um fato interessante é que, no v. 2, ele esclarece que quando Deus veio entregar Sua Lei ao povo no monte Sinai, não o fez sozinho. Milhares dos seus santos, isto é, sua corte celestial, vieram com Ele. Isso é repetido no Salmo 68:17, e em Daniel 7:10 também há uma menção dessa forma de Deus trabalhar.

Na verdade, este fato explica por que Deus as vezes falava no plural nos relatos do Gênesis, vide 1:26, 3:22-24 e 11:27, pois Ele falava com seus exércitos dos céus.

  • Eu já escrevi alguns estudos a respeito dessas passagens no Blog Bíblia se Ensina. Confira lá os estudos de Gênesis 1:26? e Gênesis 11:7.

(Nos escritos dos discípulos de Jesus/Yeshua, o nazareno, essa entrega da Torá através dos exércitos celestiais é confirmada em Atos 7:53, Gálatas 3:19 e Hebreus 2:2. Eles também dizem que o Enoque mencionado em Gn 5:21-24 já havia profetizado tal acontecimento no monte Sinai, veja Jd 1:14. Pergaminhos contendo esta profecia de Enoque foram encontrados entre os achados dos Manuscritos do Mar Morto, em Qumran, em 1947. Para mais detalhes, veja o e-book “Relatos Adicionais do Gênesis Extraídos do Livro de Enoque“, que eu escrevi e publiquei no Amazon Kindle).

Deus ama ao povo que lhe dá ouvidos!

O v. 3 de Deuteronômio 33 diz que Deus ama os povos, nas seguintes palavras: אַף חֹבֵב עַמִּים (‘af rravev ‘amim). Isso pode ser uma referência às tribos do povo de Israel, já que este cântico é relacionado a ele. Também pode ser uma referência aos outros povos que estavam com os israelitas ali naquele momento, que haviam saído do Egito com eles (Êx 12:38). De toda forma, Dt 33:3 destaca como que os santos de Deus se colocam aos pés Dele para aprender suas palavras. Logo, o amor que Deus tem por cada pessoa deve despertar nela o desejo de ouvir as palavras Dele e obedecê-las.

O texto prossegue informando que a instrução mais precisa de Deus, isto é, Sua Lei (Torá), foi dada como herança aos descendentes de Jacó (o povo de Israel) (v. 4). Isso ressalta a importância deste povo para as demais nações, a fim de que com o auxílio dele se estude e entenda os ensinamentos bíblicos corretamente. Nos próprios Escritos Nazarenos isso continua a ser enfatizado, basta ver textos como João 4:22, Rm 3:1-2, 9:4, 11:16-18 e Ef 2:11-13 etc.

O v. 5 declara que Deus se fez rei do povo de Israel, mencionado nas bíblias comuns como “Jesurum” (veja a explicação para este nome em nossa nota de rodapé na nossa tradução de Deuteronômio 32:15). Este fato, porém, passou por complicações muitos anos depois, quando o povo pede que um ser humano seja seu rei, como era com as outras nações, rejeitando assim o reinado do ETERNO sobre eles (vide 1º Cd (1Sm) 8:1-7).

Moisés abençoa os israelitas.

Os vs. 6 até 25 de Deuteronômio 23 registram especificamente as bênçãos que Moisés proclamou sobre as tribos de Israel.

Um fato curioso aqui é que Moisés pode ter esquecido a tribo de Simeão, ou não a cita por algum motivo.

Eu coloquei abaixo os nomes dos doze filhos de Jacó, que correspondem às doze tribos, e os referidos versículos onde são citados na bênção de Moisés.

  1. Rúben: v. 6.
  2. Judá: v. 7.
  3. Levi: vs. 8-11.
  4. Benjamim: v. 12.
  5. José: vs. 13-17.
  6. Zebulom: vs. 18-19.
  7. Issacar: vs. 18-19.
  8. Gad: vs. 20-21.
  9. Dan: v. 22.
  10. Naftali: v. 23.
  11. Aser: vs. 24-25.
  12. Simeão: ?:

A não ser que ele mencione Simeão com o nome de Jesurun no v. 26. Entretanto, os vs. seguintes (28-29) sugerem que Jerusun é o povo de Israel como um todo.

(Curiosamente, no livro da Revelação (Ap) 7:4-8, João possivelmente esquece de recitar uma das tribos de Israel também, que seria Dan, trocando-a por Manassés, vide v. 6).

Por fim, dos vs. 26-29 Moisés finaliza as bênçãos com um cântico de louvor a Deus, destacando os privilégios de Israel ao tê-lo como seu Protetor.

A morte de Moisés.

O capítulo 34 de Deuteronômio, o último do livro, começa descrevendo Moisés subindo ao monte Nebo para ali concluir sua carreira. Lá, Deus mostra a ele toda a terra que foi prometida aos patriarcas, que agora seria herdada por seus descendentes (vs. 1-4).

O que é interessante se notar até aqui é que esta narrativa menciona alguns locais da terra de Canaan com nomes israelitas: Dan, Naftali, Efraim e Judá (vs. 1-2). No entanto, essas terras só receberam esses nomes depois que Josué as repartiu entre os israelitas, porque até então aquele lado do Jordão, em Jericó, não havia sido conquistado (cf. Js 16:5-9; 17:8-10; 18:5; 19:32-48, onde tais terras são nomeadas).

Isso nos indica que o escritor de Deuteronômio 34, naturalmente, não foi Moisés, mas um escriba posterior a ele, provavelmente do tempo da velhice de Josué ou contemporâneo às repartições da terra prometida, que começam depois dos eventos de Js 11:23.

Outro fato interessante é que os Escritos Nazarenos mencionam que um mensageiro celestial (anjo) entra em disputa contra o adversário pelo corpo de Moisés (Jd 1:9). Isso faz parte da tradição judaica e é contado em algumas de suas literaturas, como no Talmud Avot D’Rabbi Natan 12:5. Não se sabe ao certo de qual literatura exatamente Judá extrai tal história. Trarei atualizações quando souber.

O texto de Deuteronômio 34 segue, dos vs. 5-8, narrando que o próprio Deus sepultou Moisés ali na terra de Moabe (v. 5).

No entanto, ninguém soube onde fora o local de sua sepultura. Os israelitas então ficam de luto pelo profeta durante 30 dias.

Finalmente, depois que Moisés impôs suas mãos sobre Josué (antes de sua morte), este fica cheio da inspiração de sabedoria (v. 9), por isso o povo de Israel passa a obedecê-lo.

O livro de Deuteronômio finaliza afirmando que nunca mais se levantou um profeta como Moisés, com quem Deus falou face a face, e que tenha feito tão grandes sinais milagrosos como os que ele fez (vs. 10-12; cf. Êx 33:11).

Esta menção, de que Deus falava com Moisés “face a face”, pode despertar certa curiosidade nos leitores mais atentos. Pois ao mesmo tempo que o texto bíblico diz que dessa forma Moisés falava com Deus, isto é, face a face, também diz que Deus nega mostrar sua face a Moisés quando este o pediu, porque qualquer que a visse morreria. Compare Êxodo 33 vs. 11 e 20-23.

Bom, podem haver diferentes explicações para isso, mas para simplificar podemos deduzir pelo próprio texto deste capítulo mesmo. Pois no v. 9 é dito que Deus falava com Moisés na Tenda do Encontro a partir de uma coluna de nuvem. Logo, Moisés não deveria ver a aparência do Eterno. Sendo assim, falar “face a face” é só expressão idiomática para se referir ao fato de um falar com o outro claramente, como que conversando. Para mais detalhes, veja nosso estudo intitulado “Moisés falou com Deus face a face ou não“, no Blog Bíblia se Ensina.

Mais explanações e ensinamentos do livro de Deuteronômio são abordados em literaturas como “O Pequeno Midrash Diz – o Livro de Deuteronômio“, por Rabino Moshé Weissman.

Sugestões de leituras diárias para a Parashá V’zot HaBerakhah.

Sábado, o dia de culto ao divino.

Geralmente no sábado pela manhã se faz a leitura e estudo dessas porções bíblicas em comunidade.

O mestre Jesus/Yeshua, o nazareno, bem como (naturalmente) seus discípulos, se reuniam no sábado pela manhã (shabat), o dia santificado por Deus, para fazer a leitura e estudo da Lei Divina em comunidade, basta ver textos como Lc 4:16, At 13:14-15 e 17:1-2 para comprovar isso. Esse mesmo costume permanece até hoje entre o povo de Israel, o povo do qual ele veio e no qual viveu.

Com o advento dos pais da igreja, porém, no início do século II de nossa era, esse costume infelizmente foi perdido entre a cristandade, embora, desde a época deles, estes têm se intitulado o novo povo de Deus. Por isso, a comunidade dos cristãos atuais mal sabem esta forma que o próprio Jesus estudava a Bíblia, isto é, através das porções semanais da Torá, porque a tradição herdada por eles foi a dos pais da Igreja, e não a do povo do Salvador. Um relato de Justino (100-165), acerca das comunidades cristãs do 2º século, que são as primitivas, esclarece isso, dizendo o seguinte:

No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se leem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas […]
Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.(Apologia 1,67:3,7. Fonte: apologistascatolicos.com.br).

Ora, o “dia do sol” a que Justino se refere era o dia do deus-sol invicto, cujos fiéis cultuavam no domingo, conforme ele mesmo dá a entender. Mais tarde, no ano 321, o Imperador romano Constantino torna deste o dia oficial de descanso em seu império, o que se refletiu tanto na religião cristã posterior quanto na sociedade ocidental, tal como conhecemos hoje.

Justino, bem como os demais pais da igreja, tendo conhecimento dessa e de outras religiões, ou vindo delas, promoveram um sincretismo (mistura) dos relatos bíblicos com crenças e costumes destas, e assim criaram novas liturgias e costumes na religião deles, à parte do que o povo israelita, isto é, o povo do Messias vivia, ou seja, a consagração de um dia sagrado para Deus desde a fundação do mundo, em que Ele ordena seu povo se reunir para buscá-lo (vide Gn 2:1-3; Lv 23:3).

Dessa forma, a religião que hoje em dia se apresenta como a oficial da Bíblia, seguidora do Messias, herda os costumes dos pais da Igreja e de outras religiões antigas extintas, e não os do próprio Messias e seus discípulos, que não mudaram os costumes já praticados por seu povo (cf. At 21:19-24, 24:14, 25:8, 28:17 etc.).

Como seria bom recuperarmos os verdadeiros costumes do Mestre, demonstrando sermos verdadeiros seguidores dele, não acha?! Pois ele disse, “basta ao discípulo ser como seu mestre” (Mt 10:25).

Por Gabriel Filgueiras

Nascido em fevereiro de 1989, natural de Magé, RJ. Formado em teologia pela Faculdade da 2ª Igreja Batista de Rio das Ostras (RJ); estudante da Bíblia em seu contexto original judaico com a Comunidade Judaica Netzarim do Pará, sob orientação do professor de Torá e rosh (líder de comunidade) Yoná Sibekhay. Sou um monoteísta gentio em busca do conhecimento do Sagrado e Divino através das Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada. Para mais informações, visite a página "Sobre" no Blog bibliaseensina.com.br.

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