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Gênesis Parashá

Resumo da Parashá Bereshit (Gênesis 1:1 até 6:8)

A Porção “No princípio” (Parashá Bereshit) é a 1ª das leituras semanais da Torá no ciclo anual judaico. Essa Porção começa narrando como Deus criou o mundo, Também relata como os primeiros seres humanos, Adão e Eva, comem da Árvore do Conhecimento e são banidos do Jardim no Éden. Seu filho mais velho, Caim, mata o mais novo, Abel, e fica destinado a uma vida de perambulação. A Porção, que vai de Gênesis 1:1 até 6:8, descreve um pouco da genealogia de Set e Caim, e finaliza mencionando Noé, o justo.

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A criação do mundo e do universo.

Diferente do que muitos pensam, o texto de Gênesis 1 não descreve como Deus criou apenas o planeta Terra. Nós falaremos de forma bem resumida aqui, pois o texto hebraico é rico em significados e exigiria uma página exclusiva para seu estudo.

(Veja um estudo mais completo de Gn 1 no Blog Bíblia se Ensina).

Geralmente, o que se imagina do versículo 1 de Gênesis 1 é que Deus já tenha criado ali a Terra. Porém, pode ser que não seja isso, pois o planeta de fato só é criado nos vs. 9-10.

Acontece que a palavra hebraica “erets“, em Gn 1:1, significa um espaço de terra delimitado, isto é, um território ou um terreno, e não necessariamente se refere ao planeta Terra em si (veja Dicionário de Strong H776).

Então, na verdade, a Bíblia descreve ali que Deus estava criando um território vazio, escuro, sem forma e vago.

Neste território havia água (de certa forma) e um vento de Deus que a “agitava”.

Isso se entrelaça com pesquisas científicas modernas que relataram como se forma uma galáxia. Uma matéria publicada na revista Galileu mostrou que ventos foram identificados na formação de uma galáxia. Outra reportagem científica publicada pelo portal G1 mostrou que existe água em forma de vapor nesta fase.

Além disso, o cientista Justin Spilker, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, registra:

“As galáxias são complicadas e bagunçadas, e acreditamos que as vazões e os ventos são peças fundamentais para a forma como elas se formam e evoluem, regulando sua capacidade de crescimento”.

Em suma, os cientistas provaram que:

  1. Existe vento na formação de uma galáxia;
  2. Existe água em forma de vapor também;
  3. No início, tudo é escuro, sem vida e confuso.

A Bíblia, por sua vez, registra no Gênesis 1:

  1. A terra, ou melhor, o território era sem forma e vazio;
  2. Havia escuridão sobre a “face” do abismo;
  3. Um vento de Deus soprava sobre as águas.

Outra surpresa é a seguinte: A ciência explica que o Big Bang é, na verdade, a expansão do universo. Após essa expansão ter começado (“explodido”) também começa o tempo e todas as outras coisas vem à existência, inclusive o nosso planeta. Veja a matéria “Big Bang” publicada no portal Brasil Escola, do Uol.

De forma similar, a Bíblia descreve como todas as coisas foram se formando a partir do momento em que Deus disse “haja luz”. O “relógio” do universo também começou a ser contado neste momento (vide vs. 3-5).

Como vemos, o texto de Gênesis 1 (especialmente em hebraico) tem muito mais a nos dizer do que simplesmente lemos nas traduções bíblicas tradicionais, não é mesmo?!

Conheça mais dos mistérios do livro de Gênesis com estudos do povo que foi inspirado a escrever a Bíblia: Decifrando a criação: um estudo sobre os três primeiros versículos da Bíblia, por Yosef Bitton 👇

A conclusão da criação.

Depois de narrar como Deus formou o solo, os mares, as árvores, animais, o ser humano e tudo mais no Planeta Terra (vs. 10-31), o texto de Gênesis prossegue para o capítulo 2 mostrando que Deus concluiu sua obra no sexto dia de trabalho (vs. 1-3). Então Ele santifica o sétimo dia como sendo para repouso, quando cessou suas atividades. Mais tarde, como sabemos, é ordenado que a nação de Israel se lembre deste sétimo dia da criação e descanse nele também, assim como seu Deus, vide Êx 20:5-11 e 31:13-17.

É interessante notar que o único dia da Bíblia que recebe um nome é o sétimo, chamado de Shabat, os demais apenas são mencionados pelo número: 1º, 2º, 3º, etc. Este nome aparece na frase “כִּי בֹו שָׁבַת מִ כָּל־מְלַאכְתֹּו” (ki bo shavat mi kol-mela’kh’to): porque nele descansou de todo seu trabalho.

(Os crentes não israelitas (gentios) devem santificar o 7º dia bíblico para descanso também? Ha quem diga que isso é facultativo a eles. Porém, os discípulos estrangeiros doutrinados por Saul (Paulo) e Barnabé em Antioquia da Síria, estavam unidos ao povo de Israel aprendendo as Escrituras todo dia de shabat, basta ler e entender o contexto de At 15:19-21. Além disso, outras vezes o texto bíblico menciona a presença de crentes estrangeiros na sinagoga estudando as Escrituras neste mesmo dia, vide At 14:1, 17:1-4, 18:4).

A criação dos seres humanos.

Após o resumo da criação do ser humano relatado em Gênesis 1:26-30, Moisés dá os detalhes de como isso aconteceu no capítulo 2:4-25.

Neste trecho ele também faz uma descrição geográfica da região em volta do Jardim que Deus havia plantado na terra do Éden (vs. 8-14). Com essa descrição, é possível concluir que o jardim se localizava nas proximidades do atual Irã, ou no Kuwait, como vemos no encontro dos rios Tigre e Eufrates (que existem até hoje) no mapa abaixo:

Vista do encontra dos rios Tigres e Eufrates do mapa - possível localização do Jardim no Éden.

O ser humano foi colocado naquele jardim para cuidar dele e protegê-lo. Ou seja, de certa forma, havia trabalho, porém não com sofrimento.

Por fim, Deus cria a mulher para auxiliar o homem em suas tarefas, e Adão fica “apaixonadão”! (vs. 15-25)

Aprenda mais segredos do livro do Gênesis: Decifrando a criação da vida: os dinossauros e a Bíblia, por Yosef Bitton.

O preço da desobediência.

O resumo do desenvolvimento da humanidade, que o livro de Gênesis nos traz a partir do capítulo 3, nos dá um vislumbre da situação em que os seres humanos começaram a entrar depois da desobediência do primeiro casal.

Este capítulo é inteiramente dedicado para descrever a cobiça que a mulher desenvolveu por um fruto proibido após ter dado ouvidos aos argumentos de uma certa serpente. O ego de Eva a fez pecar e, mesmo tendo se lembrado das ordens do Criador, as desobedeceu. Depois seu marido, que era o principal responsável pela ordem de toda criação, cede à tentação e à conversa de sua mulher, e desobedece aos mandamentos de Deus junto com ela.

Como a obediência aos mandamentos de Deus traz vida, a desobediência consequentemente traz a morte (vide Lv 18:5, Ez 20:11, Mt 19:17, Rm 6:23, 10:5). Assim, os seres humanos foram punidos com a morte depois da transgressão do 1º casal (Gn 3:17-19; cf. Rm 5:12).

Por fim, não podemos deixar de destacar aqui com quem Deus realmente estava conversando quando falava no plural nestes capítulos iniciais de Gênesis. Pois sem muito mistério, os vs. 22-24 mostram que Ele conversava com os seres que compõe sua corte celestial, prova disso é que alguns deles são ordenados para proteger o jardim.

Os filhos de Adão e Eva.

Depois de transgredirem a palavra de Deus e serem expulsos do jardim no Éden, o 1º casal da humanidade se relaciona e gera filhos. A Torá fala da vida deles de forma bem resumida, pois apenas em 2 versículos é relatado seu nascimento e suas profissões na fase adulta (Gn 4:1-2). Porém, outras literaturas judaicas, como o Livro dos Jubileus e o Livro do Justo, relatam vários detalhes adicionais. Este último livro foi mencionado na Bíblia duas vezes, a saber, Js 10:13 e 2º Sm 1:18. O primeiro foi preservado pela comunidade sacerdotal judaica dos essênios, e encontrado nas descobertas dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947.

Veja detalhes acerca dessa descoberta no estudo “Os Manuscritos do Mar Morto e sua importância para a Bíblia“, no Blog Bíblia se Ensina. Veja também o estudo sobre a comunidade dos essênios..

Os vs. 3-6 de Gn 4 descrevem a ocasião em que os dois irmãos apresentam uma oferta para Deus. Devido sua negligência, o Eterno não teve consideração pela oferta de Caim. O primogênito de Adão e Eva, então, acaba ficando furioso e enciumado contra seu irmão, mas Deus o repreende, porque Abel não havia feito nada de errado.

Então, no v. 7 de Gênesis 4, o próprio Deus nos dá uma preciosa lição que devemos carregar para a vida toda: Devemos controlar nossos impulsos maus e não ceder à ira! Especialmente quando essa é ocasionada por erros nossos (cf. Sl 37:8; Pv 19:11; Ec 7:9; Ef 4:26-27,30-5:1).

O que é interessante notar neste versículo é que Deus afirma que o pecado (o mau) não estava “dentro” de Caim, porém fora, batendo em sua “porta” e querendo conquistá-lo, mas ele deveria dominá-lo. Assim acontece conosco, pois todos somos tentados, porém devemos ser fortes e não ceder, suplicando a ajuda de Deus para nos salvar (cf. 1 Co 10:13; Jacó [Tg] 1:12-15, 3:2-5).

Por fim, no v. 8, Caim trama contra seu irmão e acaba o assassinando. Tanto o Livro dos Jubileus quanto do Justo conta detalhes de como isso aconteceu.

Agora, depois do assassinato, Deus aplica um castigo e uma maldição a Caim, mas ainda assim age com misericórdia para com ele, poupando-lhe a vida (vide vs. 10-15). Isso nos ensina que ceder aos impulsos errados sempre nos trará consequências ruins, bem como para outras pessoas de nosso convívio.

No v. 17 de Gênesis 4 lemos a questão que tem levantado muitas conjecturas ao longo dos anos: Com quem Caim se casou afinal de contas, já que, aparentemente, só havia aquela família na terra? O Livro dos Jubileus propõe, no c. 4 e v. 9 que ele teria se casado com uma de suas irmãs, chamada Awan. Ora, o próprio livro do Gênesis relata que Adão e Eva tiveram outros filhos e filhas além dos dois rapazes (vide 5:4).

O texto bíblico continua descrevendo o desenrolar da humanidade após estes acontecimentos, até que menciona o primeiro caso de bigamia na Bíblia. Isto é, um dos descendentes de Caim, chamado Lameque, casa-se com duas mulheres (vide Gn 4:19). A Bíblia ainda descreve uma situação em que este homem teria assassinado duas pessoas, e o Livro do Justo diz que um deles foi o próprio Caim (c. 2, vs. 26-37). Mas Jubileus apresenta outra versão para a morte do primogênito de Adão (vide c. 4, v. 31).

Finalmente, Gênesis 4 encerra descrevendo o nascimento de Set, o terceiro filho homem de Adão e Eva (vs. 25-26).

Gênesis 5 se dedica a relatar a genealogia de Adão e Eva a partir de seu filho Set, que será um dos ancestrais de Abraão, o patriarca de Israel. É claro que, como já dissemos, o primeiro casal teve muitos outros filhos e filhas cujos nomes não são relatados na Bíblia, pois a finalidade de Moisés com essa pesquisa foi relatar os ascendentes de Abraão.

(Lucas registra essa genealogia até Ieshua, o nazareno (vide Lc 3:23-38): É interessante destacar aqui que ele menciona um homem que não foi relatado na genealogia de Gênesis, que seria Cainan, filho de Arfaxade, neto de Shem e bisneto de Noé. Compare o texto Gn 10:22-24 com Lc 3:35-36 – veja os personagens na ordem inversa em Lc. Observe que Lucas registra Salá como sendo filho de Cainan, e este de Arfaxade. Mas o livro de Gênesis registra Salá como sendo filho de Arfaxade; ou seja, Gênesis não menciona o Cainan. O motivo pode ser que Cainan, pai de Salá, tenha morrido antes de seu filho, então Arfaxade adota seu neto como filho, costume comum da época, por isso Gênesis não registraria o Cainan; mas isso é só conjectura agora. Não obstante, o Livro dos Jubileus menciona o Cainan nessa genealogia (veja 8:1-5). Então pode ser que Lucas tenha pesquisado este livro, que estava com os essênios, para montar sua genealogia).

A decadência dos seres humanos.

A Parashá Bereshit finaliza em Gênesis 6:1-8 descrevendo como os seres humanos se multiplicaram sobre a terra, e na mesma medida a maldade também. Mas esse texto nos traz algumas curiosidades interessantes.

A primeira delas é que o texto menciona uns certos filhos de Deus, dos quais tem se conjecturado ao longo do tempo quem seriam, se mensageiros celestiais (anjos) enviados à terra, ou os descendentes de Set, que buscavam a Deus naquele tempo; veja Sl 29.1, Jó 1.6, 2.1, 38:7 e Gn 4.25-26.

Fato é que, da relação destes filhos de Deus com as mulheres, surgiram seres superpoderosos que foram reconhecidos como gigantes, homens cujo tamanho além do normal, vide Gn 6:4 e Nm 13:32-33.

Judá, um dos discípulos de Ieshua, possivelmente faz menção a estes filhos de Deus em sua carta, referindo-se a eles como mensageiros celestiais mesmo (cf. Jd 1:6). Simão faz o mesmo em sua 2ª carta (2:4).

Outras literaturas judaicas mencionam que, nos tempos anteriores ao dilúvio, Deus havia enviado mensageiros celestiais à terra, porém eles corromperam as mulheres ao ensinarem coisas más para elas e terem relações sexuais. Destas relações teriam vindo os filhos gigantes e cruéis mencionados em Gn 6. O livro de Enoque aborda isso aos detalhes, e as referências de Judá e Simão se parecem com estes relatos de Enoque (veja a pesquisa que escrevi e publiquei no Amazon Kindle: Relatos adicionais do Gênesis extraídos do livro de Enoque).

Outra curiosidade é que Deus menciona que o tempo de vida do ser humano seria de 120 anos.

Isso pode fazer referência a duas coisas: O Soberano poderia estar falando da idade que o ser humano viveria ao todo, ou do tempo que levaria até o dilúvio destruir a terra. Neste último caso, Deus teria anunciado o dilúvio aos 480 anos da vida de Noé; de fato, o Livro do Justo menciona que Ele fez isso, basta ver o c. 5:6-11. No primeiro caso, a palavra teria se cumprido na vida de Moisés, que morre aos 120 anos após uma fase gradativa de decréscimo da idade do ser humano (vide Dt 34:7).

Estude mais das porções semanais da Torá com este livro: Torá hoje: um encontro renovado com a Escritura Sagrada, por Pinchás H. Peli, Editora Sêfer.


Sugestões de leituras diárias para a Parashá Bereshit:

Por Gabriel Filgueiras

Nascido em fevereiro de 1989, natural de Magé, RJ. Formado em teologia pela Faculdade da 2ª Igreja Batista de Rio das Ostras (RJ); estudante da Bíblia em seu contexto original judaico com a Comunidade Judaica Netzarim do Pará, sob orientação do professor de Torá e rosh (líder de comunidade) Yoná Sibekhay. Sou um monoteísta gentio em busca do conhecimento do Sagrado e Divino através das Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada. Para mais informações, visite a página "Sobre" no Blog bibliaseensina.com.br.

Uma resposta em “Resumo da Parashá Bereshit (Gênesis 1:1 até 6:8)”

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