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Parashat Vayera’ – 2º ano do ciclo trienal: Gênesis 19:1 até 20:18

O texto de Gênesis 19 narra, resumidamente, como foi a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra e o envolvimento de , o sobrinho de Abraão, nessa história. Os pecados deles já haviam atingido o seu limite, por isso Deus não poderia mais conter seu juízo (Gn 18:20-21). O texto bíblico segue relatando a estadia de Abraão em Gerar, até o versículo 18 do capítulo 20, finalizando assim a leitura da Parashat (porção) Vayera’, que ao todo abrange Gênesis 19:1 até 20:18, no 2º ano do ciclo trienal de leitura da Tora.

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Sugestões de leituras diárias para a Parashat Vayera’.

Os mensageiros divinos visitam Ló.

Em Gn 19, a Torá (palavra divina) descreve como Sodoma e Gomorra foram destruídas por Deus. Nessa época Ló, o sobrinho de Abraão, estava habitando por lá. Ele havia se mudado para aquele local depois do desentendimento entre os pastores do gado dele e de seu tio, vide Gn 13:7-11.

Os dois mensageiros de Deus que haviam conversado com Abraão antes (no cap. 18:22+), agora chegam em Sodoma com a finalidade de tirar Ló de lá e destrui-la.

Ló estava na entrada da cidade e quando os vê, rapidamente insiste para que se hospedem em sua casa. Essa insistência talvez seja explicada pelo fato dos cidadãos de Sodoma maltratarem muito os peregrinos que passavam por lá. A Bíblia só menciona isso vagamente em Ez 16:49. Todavia, o Livro de Jasher, que foi mencionado na própria Bíblia por duas vezes (Js 10:13 e 2Sm 1:18), dá mais detalhes das maldades dos sodomitas.

No capítulo 19:1-35 de tal livro, é relatado que os viajantes eram deixados na rua sem nada, e todos os cidadãos dali consentiam em não ajudá-los, até que passassem fome. E quando ele morresse sem ter o que comer, roubavam seus bens. Eles também violentavam alguns, tiravam suas roupas e o deixavam nu pela cidade.

Enfim, o sobrinho de Abraão leva os dois homens para sua casa e prepara-lhes um jantar. Porém, os sodomitas vão até lá e exigem que Ló coloque os homens para fora afim de que fossem abusados sexualmente (vs. 4-5).

Por causa do costume antigo dos anfitriões protegerem seus hóspedes a todo custo, Ló oferece suas duas filhas virgens para serem abusadas no lugar dos dois homens (v. 8).

Depois disso, os cidadãos de Sodoma fazem uma declaração interessante: eles dizem que Ló se fazia como um juiz entre eles. Isso indica então que ele julgava suas ações, talvez querendo repreendê-los por suas maldades. Tal menção explica bem o texto de 2ª Kefa [Pe] 2:7-8, que afirma que Ló se afligia ao ver a impiedade daquele povo. O sobrinho de Abraão ainda é mencionado outra vez nos Escritos Nazarenos, em Lc 17:32.

Por fim, os dois mensageiros de Deus não permitem que as moças sejam abusadas e nem Ló agredido. Eles ferem os homens com uma cegueira, impedindo-os de encontrar o caminho para entrar na casa (vs. 10-11).

A destruição de Sodoma e Gomorra.

Finalmente, depois da confusão na entrada da casa de Ló, os representantes enviados por Deus decidem destruir a cidade de uma vez. Eles ainda dizem para Ló avisar seus parentes que fugissem junto, mas eles pensaram que Ló estava brincando (vs. 12-14).

Ao amanhecer, depois de certa demora da parte de Ló para fugir com sua mulher e suas duas filhas, os enviados agarram-nos pelas mãos e os levaram de lá à força. O sobrinho de Abraão pede para ir à cidade de Zoar, e não para as montanhas, com medo da destruição alcançá-lo lá. O pedido é concedido e a cidade só é destruída quando ele chega ao seu destino (vs. 15-23).

Deus lança então fogo e enxofre sobre a cidade de Sodoma e circunvizinhança, bem como na campina que havia ao seu redor.

A Revista Galileu publicou uma matéria onde uma equipe de pesquisadores da Universidade Trinity Southwest, do Novo México, liderada pelo arqueólogo Steven Collins, conseguiu encontrar vestígios da antiga Sodoma exatamente como e no local descrito na Bíblia.

Ruínas da cidade bíblica de Sodoma.
Trabalhos de escavação no monte Tall el-Hammam revelam ruínas da antiga cidade de Sodoma.

Finalmente, o texto descreve que a mulher de Ló, que estava correndo da destruição, desobedece a ordem dos mensageiros, que era fugir sem sequer olhar para trás. Ela acaba estranhamente transformada em uma estátua de sal (v. 26).

Ló consegue fugir com suas duas filhas da destruição. Eles só se livraram porque Deus teve compaixão deles, devido o clamor de Abraão por seu sobrinho (vs. 27-29; cf. 18:17-33).

A origem dos povos moabita e amonita.

Depois da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, relatada em Gn 19:12-29, o texto prossegue no versículo seguinte mencionando a atitude que as duas filhas de Ló tiveram quando se encontraram sozinhas com seu pai.

Antes da destruição da cidade, enquanto fugia, Ló havia desejado fugir para uma cidade chamada Zoar (Gn 19:15-23). Porém, ao chegar a Zoar, preferiu não permanecer ali e foi habitar nas montanhas. Ele se escondeu em uma caverna com as duas meninas.

Nessas circunstâncias, diante do isolamento social, a filha mais velha de Ló teve a ideia de embriagar o pai e ter relações sexuais com ele. Sua intenção era gerar descendentes de sua família, para que esta não deixasse de existir sobre a Terra. Então, tanto ela quanto a mais nova embriagaram o pai e tiveram relações sexuais com ele, sem que ele se conscientizasse disso.

O filho que a mais velha gerou se chamou Moab, um nome formado com a palavra “av” (ou ab), que quer dizer “pai em hebraico, com uma forma prolongada do prefixo “m“, significando algo como “do seu pai“. Moab se tornou pai do povo moabita, que mais tarde foi um rival de Israel. A filha mais nova, por sua vez, gerou Ben-Ami, um nome formado com a junção das palavras “ben“, que quer dizer “filho“, com “ami“, que significa “meu povo“; sendo assim, seu nome quer dizer “filho do meu povo” (Gn 19:30-38).

A mentira de Abraão e suas lições.

Depois dos eventos com a destruição de Sodoma e Gomorra, o texto de Gênesis capítulo 20 relata que o patriarca Abraão chega até Gerar, que se localizava ao sul da atual Gaza. Ele fica peregrinando naquele local e diz para seus habitantes que Sara, sua esposa, era sua irmã, como já havia feito antes em outro lugar (Gn 12:13-20). Ele tinha medo de que, ao apresentá-la como sua esposa, os homens daquele local o matassem para ficar com sua mulher.

Quando o rei de Gerar, Abimelek, ouve a respeito da beleza de Sara, ordena que ela fosse trazida até ele. No entanto, antes que se deitasse com ela, o próprio Deus lhe adverte num sonho que ele morreria se a tocasse, pois era mulher de outro (Gn 20:1-4).

Este acontecimento é interessante porque, embora até aqui a Bíblia não tenha mencionado um mandamento de Deus específico dizendo, “não adulterarás” ou “não cobiçarás a mulher do teu próximo”, já é possível perceber que havia um princípio de vida inerente no ser humano, ou algum mandamento divino que tivesse sido transmitido de forma oral, no qual era proibido possuir a mulher do outro ou cometer adultério.

Por fim, Abimelek justifica-se perante Deus, dizendo que havia agido de boa consciência ao chamar Sara para si, pois o próprio Abraão havia omitido que ela era sua esposa. Em resposta, o Eterno disse que sabia disso, e por isso o havia livrado de tocar na mulher.

Tal cena nos ensina que, quando agimos de boa consciência em algum caso, Deus em troca age com misericórdia para conosco, mesmo quando estamos a ponto de fazer algo errado, sem a intenção de fazê-lo. Isso também nos sinaliza que devemos eliminar as intenções impuras de nosso coração, e não deixar que nosso ser interior seja contaminado pelo mal, nos fazendo praticar o que é reprovado diante do Criador.

Agora, no v. 7 de Gênesis 20, Deus ordena que a mulher fosse devolvida para seu marido. O Eterno afirma ainda que Abraão era seu profeta, isto é, seu porta-voz, e que Abimelek deveria aceitar a intercessão dele ao seu favor, a fim de que se livrasse da morte. O homem obedece a ordem de Deus instantaneamente, e aqui aprendemos outra lição importante.

Por mais que Abimelek tivesse se encantado com a beleza da mulher de Abraão e desejasse possuí-la (porque ele mandou que a buscassem para si), ele se submeteu à ordem de Deus quando este o advertiu que a devolvesse para seu marido, do contrário colheria o mal de sua própria obstinação. Dessa forma, devemos dar ouvidos aos avisos da palavra divina, e assim nos desviar de fazer o mal.

A partir do v. 8 é relatado o diálogo que o rei de Gerar teve com o patriarca de Israel. Abimelek e seus servos temeram continuar com Sara e a devolveram para Abraão, mas não sem questioná-lo do motivo de sua atitude, ao ter omitido que ela era sua esposa. Neste ponto, o texto bíblico nos ensina, implicitamente, que dizer a verdade e contar com a ajuda do Criador é sempre a melhor escolha. Também nos ensina que não devemos ser motivo de tropeço para as outras pessoas, como Abraão foi para Abimelek nessa situação (caso ele chegasse a se deitar com Sara; vide vs. 8-10).

No v. 11 deste mesmo capítulo, respondendo ao questionamento de Abimelek, Abraão diz a justificativa que o levou a mentir a respeito de seu casamento com Sara. Ele pensava que as pessoas naquele lugar não temiam ao Deus Eterno, e por isso, se ele dissesse que Sara era sua esposa, julgaria que o matariam para ficarem com ela (vs. 11-13).

Às vezes, pensamos que as pessoas devem ter os mesmos gostos que os nossos, ou serem adeptas de uma religião específica, para mostrarem que temem a Deus. No entanto, e na verdade, o Criador não tem religião, ele tem princípios e verdades absolutas, que às vezes podem ser refletidas de formas diferentes na sua criação, mas sem contradição, claro.

Por fim, o texto de Gênesis prossegue dizendo que Abimelek deu vários bens a Abraão e lhe permitiu habitar em sua terra. O patriarca então roga ao Eterno em favor do rei, e ele é curado juntamente com toda sua casa, voltando a gerar filhos, o que indica que Sara passou algum tempo na casa dele (vs. 14-18).

Obra sugerida para mais aprendizado bíblico: A Torá da humanidade, por Ury Cherki.

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Por Gabriel Filgueiras

Nascido em fevereiro de 1989, natural de Magé, RJ. Formado em teologia pela Faculdade da 2ª Igreja Batista de Rio das Ostras (RJ); estudante da Bíblia em seu contexto original judaico com a Comunidade Judaica Netzarim do Pará, sob orientação do professor de Torá e rosh (líder de comunidade) Yoná Sibekhay. Sou um monoteísta gentio em busca do conhecimento do Sagrado e Divino através das Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada. Para mais informações, visite a página "Sobre" no Blog bibliaseensina.com.br.

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