Last updated on 16/03/2023
A Parashá Vayikrá é a 24ª porção semanal da Torá no ciclo anual judaico de leitura. Em Vayikrá, que significa “Ele Chamou” em hebraico, a primeira porção da Torá no Livro de Levítico, Deus conta a Moisés sobre os sacrifícios oferecidos no Mishkan (Tabernáculo). Entre estes estão os sacrifícios inteiramente queimados no altar, as ofertas de farinha e óleo, ofertas pacíficas e sacrifícios trazidos por pecado inadvertidamente. A Porção completa abrange Levítico capítulos 1:1 até 5:26 na Bíblia Hebraica (também na Bíblia Judaica em português do David Stern). O capítulo 5 termina no v. 19 nas traduções bíblicas comuns, então a Porção Vayikrá terminaria no 6:7, que corresponde ao 5:26.
Baixe este estudo em PDF para impressão aqui.
O sacrifício queimado.
No livro de Levítico entramos em um cenário em que a Tenda do Encontro (Mishkan) já estava pronto, por isso era dali que Deus falaria com Moisés daqui por diante, veja Lv 1:1.
O capítulo 1 deste livro descreve as ofertas queimadas, chamadas “holocaustos” nas bíblias comuns. Primeiro, Deus afirma que esses tipos de ofertas deveriam ser do gado ou do rebanho (1:2).
Os vs. 3-9 deste capítulo descrevem como um bezerro deveria ser oferecido a Deus no altar sob ministração dos sacerdotes da família de Aarão. Já os vs. 10-13 descrevem o ritual de oferta de um cordeiro ou cabrito. Os rituais de sacrifício eram similares.
Os vs. 14-17, por sua vez, descrevem a oferta de uma rolinha ou um pombo. Esse ritual, naturalmente, tinha algumas diferenças em relação aos dois mencionados anteriormente.
Mas é importante frisar que, seja um animal ou outro, eles deveriam ser oferecidos sem defeitos!
Isso nos faz refletir de que maneira entregamos nossas ofertas a Deus; digo ofertas de diversos tipos. Fazemos com capricho e oferecemos o melhor, ou na correria do dia a dia separamos uma coisa qualquer para o Bendito?
As ofertas de cereais.
O capítulo 2 de Levítico começa descrevendo as ofertas de cereais. Deus ordenou nesta ocasião que fosse dado farinha da melhor qualidade e sobre ela deveria se derramar azeite, depois colocar incenso. Os vs. 1-3 seguem descrevendo como o sacerdote ofereceria essa doação, bem como menciona que uma parte dela ficaria para o sacerdote.
O texto segue descrevendo que o ofertante também poderia levar como oferta algo cozido no fogo. Neste caso, deveria ser de bolos sem fermento, amassados com azeite; ou de pães finos sem fermento, untados com azeite, tudo feito da melhor farinha. Na continuidade desse trecho também é dito que a oferta poderia ser assada na grelha ou frita (vide vs. 4-7).
Ainda falando destes tipos de ofertas de cereais, os vs. 8 até 10 descrevem que o sacerdote deveria queimar uma parte delas, e a outra ficaria para si. Tanto uma parte como a outra eram sagradas para Deus.
Os israelitas não deveriam oferecer ao ETERNO nada que tenha fermento, não deveriam queimá-lo como oferta, nem o mel. Mas ambos poderiam ser oferecidos como ofertas dos primeiros frutos (primícias), porém não deveriam ser queimados como uma oferta no altar (vs. 11-12).
O versículo 13 menciona que deveria ser colocado sal nas ofertas de cereais, em representação da aliança divina.
Os vs. 14-16 finalizam o capítulo 2 de Levítico mencionando como deveriam ser oferecidos os cereais da primeira colheita.
Todas essas coisas nos mostram como deve ser nosso comprometimento contínuo para com Deus, além de nossa generosidade e esmero ao apresentar-lhe nossas ofertas.
Os sacrifícios de comunhão.
O capítulo 3 de Levítico começa descrevendo as ofertas de comunhão, isto é, de pacificação ou alegria para com Deus. Poderia ser oferecido um bezerro ou uma vaca, mas sem defeitos! Os vs. 1-5 dão detalhes do ritual que deveria ser realizado ao se oferecer estes tipos de animais.
Agora, a partir do v. 6, é descrito como deveria ser o ritual se o animal oferecido fosse dos rebanhos de ovelhas. Neste caso, o animal também poderia ser macho ou fêmea, porém, da mesma forma, sem nenhum defeito. O ritual completo é relatado dos versículos. 6 até 11.
Já os vs. 12-16 descrevem o rito que se seguiria caso fosse oferecido um cabrito.
O v. 17, por sua vez, encerra o capítulo 3 de Levítico mencionando que todas essas leis eram permanentes para os filhos de Israel, e onde quer que eles vivessem não deveriam comer gordura ou sangue dos animais. Sendo que este último item também é uma proibição Divina para todo ser humano, e não somente o israelita, como podemos ver em Gn 9:3-6 e em nosso estudo sobre os mandamentos universais de Deus para a humanidade, publicado no Blog Bíblia se Ensina.
Os sacrifícios pelos pecados feitos sem intenção.
O capítulo 4 de Levítico aborda como se deveria agir no caso de alguém pecar sem querer, fazendo o que o SENHOR mandou que não fosse feito.
Os vs. 3-12 descrevem como que um bezerro deveria ser oferecido no caso de um sacerdote ter cometido algum pecado (i.e. alguma transgressão contra a Lei divina – Torá).
Já a partir do v. 13 até o 21, entra a descrição do que seria feito caso a comunidade de Israel pecasse contra Deus. O texto descreve que eles ficariam com a consciência culpada assim que soubessem que pecaram. Para limpar sua consciência deveriam fazer todo o rito de purificação do pecado, ordenado pelo próprio Deus.
Isso é interessante porque nos mostra que as vezes pecamos sem querer, seja por esquecermos uma das leis divinas ou por falta de conhecimento mesmo.
No entanto, depois de tomar conhecimento de que aquilo que fizemos não era o certo perante Deus, como agimos? Retornamos de nosso caminho e buscamos por purificação, ou criamos justificativas e damos um jeito de continuar praticando o pecado que desejamos?
Em sequência, os vs. 22-26 deste mesmo capítulo descrevem o que deveria ser feito caso um chefe de comunidade viesse a pecar sem querer. Mesmo tendo pecado sem querer, o texto bíblico descreve que ele seria culpado pelo que fez, mas quando tivesse ciência de seu pecado, deveria apresentar um bode sem defeito para sacrifício, a fim de que fosse perdoado.
Agora, os vs. 27-31 descrevem como se deveria agir no caso de uma pessoa qualquer da comunidade israelita pecar sem querer. Assim que ela soubesse de seu erro, deveria oferecer uma cabra sem defeito pelo seu pecado. No caso dela oferecer uma ovelha no lugar de uma cabra, a descrição do ritual a ser feito é mencionada nos vs. 32 a 35, encerrando o capítulo 4 de Levítico.
Por que sacrificar animais?
Uma leitura superficial destes rituais de sacrifício animal pode levar alguém a pensar que Deus é sanguinário e não tem amor pelos animais. Então será que Deus realmente gosta que animais sejam sacrificados a Ele o tempo todo?
Obviamente, o que está por trás do sacrifício daquela criatura era o arrependimento sincero do ser humano. Não era legal ver um animal sendo sacrificado por causa de um erro que eu cometi, digamos assim. Dessa forma, o pecador veria que o pecado é de fato algo sério e que não deveria ser amado pelo ser humano (cf. Rm 6:23). Logo, se ele seguisse as orientações da Lei e não praticasse o pecado, não haveria necessidade de se sacrificar um animal por isso.
A conclusão é que os sacrifícios também eram didáticos, pois eles conscientizavam os seres humanos de seus erros e que eles não deveriam agir mal; de maneira que, se não houvesse tal conscientização, o sacrifício era inútil, como lemos, em outras palavras, na carta aos hebreus (capítulo 10).
Os sacrifícios por pecados diversos.
O capítulo 5 de Levítico descreve uma série de situações em que a pessoa poderia pecar, e o subsequente sacrifício que deveria ser oferecido pelo seu perdão.
- O v. 1 descreve que alguém que se recusasse a ser testemunha de algo que viu ou ouviu, seria culpado por seu pecado.
- O v. 2 descreve que uma pessoa ficaria impura ao tocar no cadáver de um animal selvagem ou doméstico. Já o v. 3 aplica a mesma situação para o caso de tocar alguém impuro.
- Os vs. 4-6 mencionam que alguém se tornaria culpado caso fizesse um juramento impensado. Neste caso, além de confessar que pecou, deveria ser oferecida uma ovelha ou uma cabra para purificação.
- Ainda sobre este caso, o v. 7 menciona que se uma pessoa não tivesse condições de oferecer uma ovelha ou uma cabra, deveria oferecer duas rolas ou dois pombinhos. O texto então segue até o v. 10 ensinando que tipo de ritual seria feito para perdão de seu pecado.
- Mas no caso da pessoa não ter condições de oferecer nenhum dos animais, poderia oferecer cerca de dois quilos da melhor farinha de trigo como sacrifício pelo pecado. Os vs. 11-13 dão detalhes do ritual que deveria se seguir neste caso.
O sacrifício de restituição.
Os vs. 14 a 16 de Levítico 5 descrevem quando alguém, sem querer, é culpado de ficar com as coisas consagradas a Deus. Neste caso, a pessoa deveria levar um carneiro sem qualquer defeito ao ETERNO como sacrifício de restituição, ou o equivalente em moedas de prata, segundo o peso oficial da moeda no santuário.
Agora, quando alguém pecava e fazia algo que era proibido pelos mandamentos de Deus, mesmo que não fosse de propósito, era culpado e responsável por seu pecado. Neste caso, tal pessoa deveria levar ao sacerdote um carneiro do seu rebanho sem qualquer defeito, ou o pagamento avaliado de acordo com o pecado cometido. O sacerdote deveria fazer então a purificação, assim seu pecado seria perdoado. Este sacrifício seria considerado de restituição, pois a pessoa era culpada perante o SENHOR.
Por fim, os vs. 1-7 do capítulo 6 (nas traduções bíblicas tradicionais) encerram a Parashá Vayikrá descrevendo que um sacrifício de restituição também deveria ser oferecido para os seguintes casos:
- Quando uma pessoa enganasse alguém do seu povo;
- a pessoa que mentir sobre algo que lhe foi emprestado ou que lhe foi dado para guardar;
- aquele(a) que tirar alguma coisa à força ou que a roubar;
- alguém que encontrar alguma coisa que não lhe pertence e ficar com ela, mentindo ao dizer que não a encontrou;
- a pessoa que jurar falsamente para ficar com o que não é dela.
O texto menciona que em todos esses casos a pessoa é culpada e terá que devolver tudo o que roubou, todas as coisas que ficou por ter mentido, as coisas que tinham sido confiadas a ela, as coisas que tinha encontrado e as coisas que tinha jurado serem dela e que não eram. Terá que devolver tudo ao dono e dar mais vinte por cento do valor total. Ela deverá fazer isso no mesmo dia em que fizer o sacrifício de restituição.
Isso tudo é muito interessante, porque nos ensina que Deus exige integridade e verdade da parte de Seu povo! Mais uma vez isso nos prova que os sacrifícios eram didáticos, o pecado não é impune e que não devemos praticá-lo.
Obra sugerida para leitura da Parashá (Porção) Vayikrá:
Torá: a lei de Moisés, por Meir Matzliah Melamed.
Sugestões de leituras diárias da Parashá Vayikrá:
- Domingo: Levítico capítulos 1 e 2.
- 2ª Feira: Levítico capítulo 3.
- 3ª Feira: Hebreus 10:1-14. Obra sugerida para essa leitura: Bíblia Judaica Completa, por David Stern.
- 4ª Feira: Levítico capítulo 4.
- 5ª Feira: Levítico 5:1 até 6:7 (nas traduções bíblicas comuns) e 5:1-26 na Bíblia Judaica em português.
- 6ª Feira: Isaías 43:21-44:23. Obra sugerida para essa leitura: Tanah Completo Hebraico-Português, Editora Sêfer.
- Sábado: Levítico 1:1 até 6:7 (ou 5:26). As comunidades do povo de Israel no mundo todo leem as porções aos sábados pela manhã, e isso é feito, pelo menos, desde os tempos do sacerdote Ezra (Esdras), conforme lemos o início deste costume em Neemias 8:1-3. Os textos de Atos 13:27 e 15:21, além de Lc 4:16, por exemplo, são testemunhos de que a leitura das porções semanais da Torá eram realizadas nos tempos bíblicos, inclusive Ieshua e seus discípulos mantiveram essa prática.
Obra sugerida para mais aprendizado com as porções semanais: Torati – o Seu Dia a Dia Conforme o Pentateuco, por Jorge Dzialowski Diaconescu.