Last updated on 19/09/2022
A Parashá Nitzavim é a 51ª porção semanal da Torá no ciclo judaico anual de leitura da Torá. Essa Porção vai de Deuteronômio 29:9 até 30:20. Em Nitzavim (“Em pé”), Moisés se dirige aos israelitas enfatizando a importância de seguir a aliança de Deus e de não adorar outros deuses. Ele descreve o processo de arrependimento e retorno a Deus, e enfatiza que os mandamentos de Deus são alcançáveis e “não estão nos céus”.
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Só é povo quem obedece!
A porção semanal da Torá Nitzavim (“Em pé”) começa em Deuteronômio 29:9 relatando como Moisés alerta o povo israelita de seu dever de honrar a aliança que eles têm com Deus ao obedecer os mandamentos Dele. Moisés destaca que diante dele, naquele momento, estavam reunidos não só os chefes das tribos de Israel, mas suas mulheres e filhos, bem como os estrangeiros que viviam entre eles, e a aliança divina era com cada indivíduo ali presente, e não somente com um grupo seleto (cf. vs. 9-12).
Nos vs. 13-15 Moisés deixa claro que a aliança feita ali se estenderia aos descendentes dos israelitas que não estavam lá, ou seja, aos descendentes que nem sequer haviam nascido. Isso confirma duas coisas:
- Que Israel e os estrangeiros que se unissem a eles seriam o povo de Deus para sempre! Conforme já havia sido em Gn 17:3-7 (cf. Is 56:3-7); e
- Que só é povo de Deus quem obedece sua aliança e suas leis!
O alerta contra a idolatria.
Nos vs. 16-18 de Deuteronômio 29, Moisés lembra aquele povo que eles haviam visto os ídolos do Egito, bem como as imagens esculpidas deles. Ele então alerta ao povo do Eterno que não deveriam agir dessa forma, criando ídolos para si. Ele chama tal inclinação de “raiz de amargura e venenosa”.
(Nos escritos dos discípulos de Ieshua, o Salvador, tal frase é repetida na carta aos Hebreus para se referir aos mesmos tipos de pessoas que apartam o seu coração do Deus vivo (vide Hb 12:15). Ambos textos relatam que a raiz de amargura, isto é, a inclinação à idolatria brota no coração de alguém, o impele a praticar maus costumes provenientes das crenças idólatras, e com isso contamina sua família, seus vizinhos e, nos piores casos, uma civilização inteira).
(Para mais detalhes, veja o estudo “Raiz de amargura: O que é e como limpar o coração” no Blog Bíblia se Ensina).
Nos vs. 19-21 Moisés alerta que uma pessoa que premedita inclinar-se aos ídolos não deveria imaginar que não teria consequência tal ato de desvio do Deus Eterno. Na verdade, ele acabaria mal juntamente com todos que o seguissem em sua devassidão, pois todas as maldições descritas no capítulo anterior viriam sobre todos!
Finalmente, nos vs. 22-28, o profeta líder de Israel relata como a própria terra deles seria destruída e desolada se eles seguissem a inclinação má de seu coração, abandonassem a aliança deles com o Altíssimo e adorassem as divindades das nações. De fato, e infelizmente, tudo isso aconteceu, e foram tais desvios que trouxeram destruições passadas à terra de Israel, como a de 2º Cr 36:13-21. Mas mesmo de tais eventos vieram mensagens, ensinamentos e orações que nos inspiram e nos instruem até os dias de hoje, como os clamores de Neemias e Daniel, que séculos depois de Moisés suplicavam o perdão de Deus em terras estrangeiras (vide Ne 1:1-11 e Dn 9:1-19).
O que são as coisas ocultas de Deuteronômio 29:29?
Em Deuteronômio 29:29 lemos um versículo que ficou muito conhecido, e que é usado por várias pessoas de modo isolado para justificar a falta de explicação de alguns pontos dentro de assuntos diversos.
Moisés esclarece que muitas coisas Deus não revelou, estas perteNcem a Ele. Não sabemos exatamente do que Moisés falava. Porém ele chama atenção de que tudo que Deus havia revelado aos israelitas até ali era para ensiná-los, e por isso eles deveriam obedecer aos mandamentos divinos.
“As coisas ocultas pertencem ao Eterno, nosso Deus. Porém, as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para cumprir todas as palavras desta Torá.”
(BHSefer Dt 29:29)
O Rambam traz explicações sobre este versículo, como este trecho mencionado abaixo:
Na opinião dos comentaristas, o versículo afirma: “Cabe ao Eterno, nosso Deus, executar julgamento sobre aqueles que adoram ídolos secretamente, pois todos os assuntos ocultos são revelados diante dele, mas as coisas reveladas estão sobre nós e nossos filhos que podemos fazer a eles todas as palavras desta Lei – ferir os adoradores de ídolos de acordo com a lei da Torá.
Neste caso, em Deuteronômio 29:29, como vemos, Moisés estaria se referindo às pessoas que adoram ídolos secretamente. Ele estava alertando-as que Deus estava vendo o que faziam, ainda que mais ninguém visse. Isso se refere então às coisas ocultas mencionada no versículo. Porém aqueles que fossem vistos adorando outros deuses (que se refere às “coisas reveladas”) seriam punidos de acordo com o determinado na Torá. Isso se encaixa melhor com o contexto, visto que Moisés menciona essa inclinação idólatra nos vs. 16-18 deste mesmo capítulo.
(Para mais informações sobre este versículo, veja o estudo de Deuteronômio 29.29 no Blog Bíblia se Ensina).
Veja um pouco da obra do Rambam em: Sefer Hamadá. Mishnê Torá. Bilingue Hebraico – Português – Volume 1.
A obediência traz restauração!
Deuteronômio capítulo 30 abre com a declaração de que Deus restauraria o povo desobediente se ele retornar seu coração para Ele, suplicando por seu perdão (veja vs. 1-6).
Pouco mais de 400 anos depois dessas declarações de Moisés, o rei Salomão, também orando, diz praticamente as mesmas palavras, que entraram para um dos versículos mais conhecidos da Bíblia (embora, infelizmente, seja apregoado e praticado de forma parcial por aqueles que não seguem a Bíblia unidos ao povo de Israel); estamos falando de 2º Crônicas 7:14.
Nas palavras de Moisés vemos ecoadas as vozes de outros profetas posteriores a ele, que viveram mais de perto a realidade do desprezo a Deus e sua aliança, bem como a destruição do território israelita e a dispersão de seu povo para o cativeiro em outras nações. Em especial, Jeremias fala sobre buscar a Deus de todo coração na terra estrangeira, e também fala da circuncisão do coração, mencionada antes por Moisés; veja Jr 29:13 e 4:4.
(Veja a ordem em que aconteceu o cativeiro babilônico no referente estudo no Blog Bíblia se Ensina).
Os vs. 7-10 destacam como as bênçãos de Deus vem sobre aqueles que obedecem seus mandamentos. Temos aqui o exemplo de uma nação desviada que volta para Ele, ou seja, que assume novamente a identidade bíblica que Ele deu ao seu povo, e o amor de cada indivíduo para com Ele.
Nos vs. 11-14 Moisés destaca que os mandamentos de Deus não eram difíceis de ser encontrados e não estavam distantes daquele povo, para que eles ficassem criando justificativas de não obedecê-los. Moisés afirma que os mandamentos estavam perto deles, em sua boca e em seus corações, e isso nos remete a dois trechos dos escritos dos discípulos de Ieshua, certamente inspirados aqui e que por isso dão todo apoio à Torá, isto é, à Lei de Deus revelada a Moisés: Romanos 10:8 e 1 João 5:3.
(Leia também um estudo sobre a identidade do povo de Deus em nossa nota no Evernote no endereço: bit.ly/idpvde-evn).
A escolha…
Finalmente, nos vs. 15 até 20 de Deuteronômio 30, lemos o famoso “teste” que Deus dá ao povo: um teste de múltipla escolha em que Deus ainda dá a resposta certa!
Precisamos observar aqui algo muito importante, pois mesmo tendo sido um povo criado por Deus, que foi retirado da escravidão pelas mãos Dele, Ele ainda dá a este povo a possibilidade de escolher segui-lo ou não. Entretanto, não segui-lo implicaria diretamente em seguir um caminho mau e perverso. Inclinar-se a outros deuses, servi-los e viver de acordo com os costumes das religiões das nações, seria uma traição àquele que libertou o povo israelita de seus antigos opressores.
Em suma, Deus está colocando seu povo para raciocinar, como fez outras vezes, nos piores momentos da história; Ele estava, em outras palavras, dizendo para Seu povo ali naquele momento: Olhem para o caminho bom e direito, e andem por ele (cf. Jr 6:16). O caminho bom e direito é o da obediência aos mandamentos do Eterno!
Aprenda muito mais da Torá, a instrução de Deus para a humanidade!
Torati – o Seu Dia a Dia Conforme o Pentateuco, por Jorge Dzialowski Diaconescu.
Sugestões de leitura diária para a Parashá Nitzavim.
- Domingo: Deuteronômio 29:9-28.
- 2ª Feira: Deuteronômio 29:29 até 30:14.
- 3ª Feira: Hebreus 12;4-15 (relacionado à raiz de amargura mencionada em Dt 29:16-18).
- 4ª Feira: Deuteronômio 30:15-20.
- 5ª Feira: Romanos 9:30 até 10:13 (aqui Saul cita as palavras que Moisés usou em Dt 30:11-14).
- 6ª Feira (porção dos profetas): Isaías 61:10-63:9.
- Sábado: O texto de Atos 15:21 nos revela duas informações muito importantes, e é a chave para compreensão correta de todo o capítulo.
A primeira informação básica é que a Lei de Moisés (Torá ou Lei de Deus) já era lida e estudada sistematicamente pelo povo de Israel desde tempos antigos. O mesmo sistema de leitura e estudo permanece até os dias de hoje nas comunidades judaicas. O próprio Messias estava inserido nele desde sua infância (vide Lc 4:16).
A segunda informação que este versículo nos dá é que os crentes não israelitas viviam junto ao povo de Israel nas sinagogas judaicas aprendendo a Lei do SENHOR, infelizmente diferente do que acontece hoje em dia, onde eles estão inseridos em um sistema religioso divorciado do povo eleito.
Observe que o capítulo começa com um questionamento se os crentes não israelitas (estrangeiros ou gentios) deveriam se circuncidar e praticar outros costumes da Torá imediatamente à sua adesão ao povo de Israel ou não (vs. 1-5). Houve grande discussão para tentar resolver o assunto, por isso os líderes daquela comunidade, que estava em Antioquia da Síria, foram enviados a Jerusalém para conversar com os principais líderes da comunidade de discípulos de Ieshua afim de resolver o caso (v. 2).
Depois de muito conversarem, a decisão final foi que os discípulos estrangeiros não deveriam sofrer imposição alguma por parte dos que já eram israelitas e circuncidados (cf. vs. 7-21).
Finalmente, o v. 21 dá a chave para entender toda a cena do capítulo corretamente. Pois Jacó (erroneamente conhecido como Tiago) afirma que “Moisés é lido em cada shabat nas sinagogas desde tempos antigos”; mas é claro que ele não diz isso em vão. Pois tal declaração nos revela onde os discípulos estrangeiros de Antioquia estudavam, que dia, com quem e o que estavam estudando: eles estudavam a Lei de Moisés (de Deus) com o povo de Israel, no dia do shabat (sábado pela manhã) dentro de suas comunidades. Por isso, se eles já estavam lá aprendendo, não havia necessidade de impor nada a eles. Mas agora eles deveriam obedecer um padrão mínimo de obediência, enquanto o restante da Torá iam aprendendo e se desenvolvendo com naturalidade ao longo do tempo.
É exatamente este padrão que Saul (apóstolo Paulo) defendia, isto é, a unificação dos povos com Israel e obediência à Lei de Deus junto deles! Na verdade, em Efésios 2:11-13 ele afirma que essa foi a finalidade da morte do Messias!