Será que o grupo de discípulos do Messias, liderados por homens como Pedro e Paulo, abriram mão da Lei de Moisés para fundar uma nova religião? Será que, para eles, o Cristo cumpriu a Lei e desde então ela não é válida para nossos dias? Eles criaram novos costumes e liturgias de culto divorciados da Lei para servir a Deus com os tais? Aqui pretendemos investigar este assunto, e para tanto, faremos uso de uma bíblia cristã para mostrar que, mesmo nessas traduções, é possível perceber que o povo de Deus manteve as tradições que lhes foram transmitidas pela Lei do Eterno. A versão que utilizaremos é a NVI (Nova Versão Internacional).
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Como Deus era cultuado?
“Conforme a ordem do Senhor acampavam, e conforme a ordem do Senhor partiam. Nesse meio tempo, cumpriam suas responsabilidades para com o Senhor, de acordo com as suas ordens, anunciadas por Moisés.”
(Números 9:23)
Este versículo nos mostra que havia um padrão de culto e serviço a Deus. Basicamente, como lemos na Torá (Lei de Deus) em vários trechos, o Eterno dava ordens a Moisés e ele, por sua vez, as ensinava aos israelitas. Dessa forma, todos deveriam cultuar e servir ao Criador de acordo com as orientações que Ele transmitia ao seu servo Moisés.
Mas será que isso, de alguma forma, mudou na época dos “apóstolos”? Vejamos o que diz o chamado “novo testamento”:
O culto a Deus no “novo testamento”.
“o povo de Israel. Deles é a adoção de filhos; deles é a glória divina, as alianças, a concessão da lei, a adoração no templo e as promessas.”
(Romanos 9:4)
Esse versículo nos revela algo muito interessante que, infelizmente, é negligenciado e até desconhecido por quase toda a cristandade. Paulo, o chamado apóstolo dos gentios e tido como o maior fundador de igrejas no mundo cristão, nos revela que ao povo de Israel pertence as seguintes dádivas divinas:
- A adoção de filhos, que podemos entender como um discipulado, ou seja, o meio de orientação pelo qual uma pessoa deve viver e servir a Deus;
- A glória divina, ou seja, a glória de Deus é manifesta ao mundo através dos israelitas (não obstante os que se desviaram ao longo da história);
- As alianças, porque Deus libertou a este povo de seu passado escravo e firmou alianças eternas com eles (Gn 17:7; Lv 26:44-45);
- A concessão da Lei, isto é, a Lei, a instrução, o ensinamento de Deus é transmitido a Israel e, através dele, para o mundo;
- A adoração no templo, ou simplesmente “o culto”. Isto é, a maneira correta de cultuar e servir a Deus foi ensinada aos israelitas por meio de Moisés (principalmente), como vimos Nm 9:23;
- E as promessas. Deus dá suas promessas a este povo e por meio dos profetas que havia nele, também para a humanidade.
Em suma, Paulo confirma que a maneira correta de servir a Deus, cultuá-lo e viver para Ele foi ensinada por Ele mesmo à Israel, e de Israel para os demais povos (cf. At 8:27; 10:30-33).
Jesus, de alguma forma, foi contra as tradições da Lei de Moisés e do povo israelita?
Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler.
(Lucas 4:16,17)
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: […]
Aqui nós vemos que o próprio Senhor manteve a cultura de seu povo. Isto é, como diz o texto, ele tinha por costume estar nas sinagogas judaicas aprendendo a Lei de Deus.
Essa Lei, desde tempos mais antigos, é lida publicamente em comunidade nos dias de shabat (sábado pela manhã). Esse costume muito provavelmente teve origem com o sacerdote Ezra (Esdras), nos eventos descritos em Neemias 8.
Ezra havia voltado do cativeiro na Babilônia com o povo judeu, ajudou na reconstrução do templo de Jerusalém, na restauração do culto e do serviço sacerdotal, bem como instigou o povo à leitura e conhecimento da Torá (Ed 7:10+).
Até hoje nas sinagogas judaicas é usado um pequeno estrado onde as pessoas sobem para fazer a leitura pública das Escrituras, exatamente como fez Ezra (Ne 8:1-4).
A Torá foi dividida em porções (trechos) por ele e sua equipe, ou por líderes posteriores ligados a eles. E estas porções continuam a ser lidas semanalmente até hoje (e na mesma sequência) pelos judeus do mundo todo. Esta porção é chamada em hebraico Parashá.
Em algum momento também foram selecionados trechos dos escritos dos profetas que tinham relação com a porção da Torá lida na semana; a porção dos profetas é chamada Haftará.
Então, durante a semana, um trecho da Torá e dos profetas ficam em destaque para leitura e estudo, e no sábado pela manhã as comunidades judaicas se reúnem nas sinagogas para a leitura daquele trecho.
Finalmente, como lemos em Lucas 4:16-17, o Mestre manteve essa tradição de seu povo praticamente por toda sua vida.
Porém, depois que ele partiu, como será que seus discípulos agiram com relação às tradições do povo israelita? Será que eles continuaram vivenciando-as? Ou será que confessaram que elas eram temporárias e perderam seu valor? É o que vamos ver no Livro dos Atos.
Paulo abandonou as tradições do povo de Israel?
De Pafos, Paulo e seus companheiros navegaram para Perge, na Panfília. João os deixou ali e voltou para Jerusalém.
(Atos 13:13-15)
De Perge prosseguiram até Antioquia da Pisídia. No sábado, entraram na sinagoga e se assentaram.
Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga lhes mandaram dizer: “Irmãos, se vocês têm uma mensagem de encorajamento para o povo, falem”.
Embora no mundo cristão Paulo, cujo nome original hebraico é Shaul, seja considerado um missionário que saiu pelo mundo greco-romano fundando várias igrejas cristãs, não é exatamente isso que lemos no Livro dos Atos. Na verdade, o que este livro histórico nos relata é muito o contrário, pois este rabino israelita ia primeiramente às sinagogas judaicas já instaladas na Judeia, Ásia, Macedônia, Grécia e outros territórios, para anunciar nelas que o Messias havia se revelado.
No trecho que lemos acima, é claramente perceptível que Shaul estava presente em uma sinagoga participando do serviço semanal de leitura da Torá e dos profetas. E como é até hoje nestes ambientes, ao final da leitura um mestre da Lei é chamado para fazer um comentário daquela porção. Neste caso, como Shaul (Paulo) já era um rabino fariseu conhecido, chamaram-no para comentar aquela leitura.
Mas o que tudo isso quer dizer? Simplesmente que os discípulos do próprio Senhor não abandonaram a cultura e tradições de seu povo. E podemos complementar isso com vários outros trechos do Livro dos Atos, como o seguinte:
Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga judaica.
(Atos 17:1,2)
Segundo o seu costume, Paulo foi à sinagoga e por três sábados discutiu com eles com base nas Escrituras,
Nestes versículos vemos outra informação interessante que é semelhante a de Lucas 4:16. Aqui é dito que Paulo tinha por costume ir até uma sinagoga judaica no shabat nos lugares onde ia pregar as boas novas. Lá, ele participava da leitura da Lei e dos profetas. Logo, em nenhum momento, aquele que erroneamente é considerado o maior fundador de igrejas cristãs, abandonou os costumes de seu povo.
Ele e seus companheiros não abandonaram as liturgias judaico-bíblicas feitas no shabat para, em vez disso, se reunirem aos domingos de manhã numa espécie de escola dominical. Quem fez isso, sob novas interpretações teológicas a respeito do Messias e com elas desprezando mandamentos do Criador, foram os pais da Igreja, como escreve Inácio aos magnésios:
“Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não mais observando o Sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida foi abençoada, por Ele e por sua morte.”
(Carta aos Magnésios. 9,1; escrita por volta de 98 – 107 EC).
O principal pai cristão descreve o mandamento de Deus como uma “ordem antiga”, e despreza o dia que o Criador santificou (Gn 2:1-3). Embora ele use a ressurreição do Messias para justificar sua nova prática, nem mesmo o Messias fez isso (cf. Jo 15:10).
Portanto, os discípulos do Ungido (bem como ele mesmo, obviamente) não se desfizeram das práticas realizadas no dia que Deus ordenou seu povo que santificasse (Êx 20:8-11; 31:13-17).
(Para mais detalhes veja o estudo “O domingo é o dia do Senhor“).
Porém indo mais adiante neste assunto, e para sermos honestos, devemos confessar que a Escola Bíblica Dominical foi inicialmente um bom projeto criado por Robert Raikes no século 18. Pois ele visava suprir uma carência da comunidade inglesa de seu tempo através da alfabetização bíblica infantil aos domingos, porque era o único dia que as crianças não trabalhavam. Com isso, ele queria livrá-las de crescerem na criminalidade. Além disso, não há problema algum em estudar as Escrituras também no 1º dia da semana (vide At 10:7).
Todavia, em nenhum momento o povo do Eterno sugeriu que as tradições israelitas deveriam ser substituídas ou desmerecidas. E antes que alguém diga, “mas Paulo foi expulso das sinagogas judaicas”, queremos destacar que ele de fato foi expulso de algumas delas como Tessalônica (At 17:4-10), Corinto (18:5-6) e Éfeso (19:8-9). Porém foi recebido por outras comunidades, como as regiões de Listra e Derbe (16:1-5), Filipos (16:12-15) e Bereia (17:10-11).
Então, o fato dele ter sido expulso de algumas sinagogas, não significa que ele tenha se divorciado das tradições de seu povo e começou a criar uma nova religião, nem tão pouco que nós hoje devemos fazer isso, criando certa hostilidade ao povo israelita.
Mas vamos ao próximo trecho dos relatos de Atos em busca de mais descobertas.
A comunidade de Paulo deixou sua identidade israelita bíblica?
Confesso-te, porém, que adoro o Deus dos nossos antepassados como seguidor do Caminho, a que chamam seita. Creio em tudo o que concorda com a Lei e no que está escrito nos Profetas,
(Atos 24:14)
Essa simples confissão de Paulo nos dá uma informação interessante que nem sempre é percebida pelos leitores da Bíblia, não obstante à controvérsia e errônea tradução da palavra “seita”.
Primeiro é que Paulo alega fazer parte de uma certa comunidade que estava sendo chamada de Caminho. E nós sabemos perfeitamente que essa era a comunidade de discípulos do Senhor. Mas o que poucos percebem, infelizmente, é a informação que ele dá a respeito de si e consequentemente da comunidade que fazia parte. Paulo alega que seu grupo acreditava em tudo que concordava com a Lei e com os profetas.
Isso ainda pode ser complementado com informações de outros líderes dessa comunidade, veja 2ª Pe 1:19, 1ª Jo 2:4 e Tg 1:25, Portanto, tudo que pregam a respeito dos discípulos do Senhor terem fundado uma nova religião e abandonado certos mandamentos e tradições da Lei de Deus só pode ser mentira, ou má interpretação do texto bíblico. Você não concorda?!
Porém, para deixar isso ainda mais claro, podemos destacar outras palavras do próprio Paulo ainda no Livro dos Atos:
Três dias depois, ele convocou os líderes dos judeus. Quando estes se reuniram, Paulo lhes disse: “Meus irmãos, embora eu não tenha feito nada contra o nosso povo nem contra os costumes dos nossos antepassados, fui preso em Jerusalém e entregue aos romanos.
(Atos 28:17)
Como vemos, o próprio emissário, chamado “apóstolo“, afirma que não fez nada contra os costumes de seus antepassados israelitas. Ou seja, a intenção dele ao anunciar o Messias não era se desfazer de seu povo e do modo de vida que eles receberam de Deus na Torá.
E se formos mais adiante neste mesmo versículo, podemos ver que, ao chegar em Roma sob prisão domiciliar, Paulo chama a liderança judaica para conversar a respeito das questões concernentes a Israel. Isso mostra que ele não estava lá para fundar uma igreja nos moldes que conhecemos hoje, ou um movimento religioso novo e diferente para desmerecer os costumes da Torá (porque isso ficou a cargo dos pais da igreja). Não obstante à resistência de certa parte daqueles judeus de Roma, o que impulsionou o anúncio das boas novas de Yeshua entre os gentios (vs. 23-28).
Mas o Livro dos Atos traz ainda mais informações a respeito da conduta de Paulo em relação à Lei de Moisés e seus costumes, portanto vamos continuar lendo.
No dia seguinte, Paulo foi conosco encontrar-se com Tiago, e todos os presbíteros se reuniram.
(Atos 21:18-26)
E, tendo-os saudado, contou em detalhes o que Deus tinha feito entre os gentios por seu ministério.
Ouvindo isso, eles deram glória a Deus e lhe disseram: — Você percebe, irmão, que há milhares de judeus que creram, e todos são zelosos da Lei.
Eles foram informados que você ensina todos os judeus entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da Lei.
Que faremos, então? Certamente saberão que você já chegou.
Faça, portanto, o que vamos dizer: Estão entre nós quatro homens que, voluntariamente, fizeram um voto.
Leve esses homens, participe da cerimônia de purificação com eles e pague a despesa deles, para que rapem a cabeça. Assim todos saberão que não procede a informação que receberam a respeito de você e que, pelo contrário, você mesmo vive de conformidade com a lei.
Quanto aos gentios que creram, já lhes transmitimos decisões para que se abstenham das coisas sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de animais sufocados e da imoralidade sexual.
Então Paulo, levando aqueles homens, no dia seguinte, tendo-se purificado com eles, entrou no templo, acertando o cumprimento dos dias da purificação, até que se fizesse a oferta em favor de cada um deles.
O trecho em questão nos dá informações muito importantes. Paulo chega a Jerusalém com seus companheiros vindo de sua 3ª viagem. Nos lugares por onde passou, ele fez vários discípulos não-judeus (gentios). Depois de relatar para os líderes de Jerusalém como estava sendo seu ministério entre eles, Jacó (Tiago) nos dá algumas informações importantes acerca de Paulo.
Primeiro ele diz: “há milhares de judeus que creram, e todos são zelosos da Lei”.
Ou seja, aqui está traçado o perfil da comunidade de judeus que creram no Salvador. Pois eles não abandonaram a Lei de Moisés (de Deus), conforme normalmente acredita-se no meio cristão e em outros.
Jacó, o justo, destaca que não foram poucos os judeus que creram no Messias, na verdade eles somavam milhares, dentre os quais estavam aqueles que creram nos eventos de Atos 2 (vs. 41-42) e 4 (v. 4).
Depois este líder da principal comunidade, que estava em Jerusalém, dá outra informação interessante a respeito do “apóstolo dos gentios”. Ele destaca, no final do v. 24, que era mentira o que diziam a respeito de Paulo não andar em conformidade com a Lei do SENHOR. Ou seja, havia grupos de judeus que estavam fazendo fofoca da vida do rabino e emissário Shaul. Na verdade, ele mesmo estava andando em conformidade com a Lei (Torá). E o próprio Shaul concordará com isso, pois em nada ele se opõe ao que Jacó disse, e além disso, no v. 26, ele mesmo leva aqueles homens para concluírem o voto do nazireu e purifica-se com eles de acordo com os rituais já estabelecidos na Lei (Nm 6:13+).
Porém, as informações que estes versículos nos trazem não acabam por aqui, pois no v. 25 é mencionada uma decisão que anteriormente foi tomada para com os crentes gentios que estavam se aproximando de Deus, e isso nos remete ao trecho do Livro dos Atos onde ela foi tomada. Vamos então conferir onde as palavras do v. 25 tiveram sua origem.
— Por isso, julgo que não devemos perturbar aqueles que, entre os gentios, se convertem a Deus,
(Atos 15:19-21)
mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como da imoralidade sexual, da carne de animais sufocados e do sangue.
Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados.
Ora, quando mal lidos e consequentemente mal interpretados, as pessoas podem se enganar com as informações contidas nos versículos acima.
Primeiro porque logo de início parece estar havendo uma flexibilidade quanto à necessidade dos discípulos não judeus guardarem certos costumes da Lei. Muitas pessoas interpretam que aqui eles foram desobrigados a observar (praticar) toda a Lei de Moisés. Porém uma leitura mais atenciosa vai mostrar que não é bem por esse caminho.
Na verdade, o problema começa lá em Antioquia da Síria, quando um certo grupo de judeus fariseus começam a impor a circuncisão aos discípulos gentios, além da prática de outros costumes da Lei de Moisés (v. 1). E eles impõe isso como necessidade para salvação. Mas Paulo e Barnabé não concordaram com esses homens e discutiram com eles, o que, pela falta de solução do problema, os fez ir à liderança maior em Jerusalém para decidir o caso (v. 2).
Mas será que Paulo e Barnabé eram contra a circuncisão daqueles discípulos gentios e por conseguinte contra os costumes que Deus no passado havia dado ao seu povo? De modo nenhum! Pois quem poderia falar contra ordens e costumes dados por Deus e continuar sendo considerado um porta-voz Dele?
Na verdade, Paulo e Barnabé ainda estavam educando aqueles irmãos na fidelidade à palavra de Deus e sabiam que vários deles ainda não estavam prontos para serem circuncidados.
Além disso, já em uma de suas cartas, Paulo mostrou que Abraão, o primeiro homem a receber a circuncisão, foi antes treinado na fidelidade e obediência a Deus e só então depois é que recebeu a circuncisão como sinal disso, veja Rm 4:9-12. Portanto, Paulo queria educar os crentes não judeus da mesma forma, mas aquele grupo de fariseus que visitou a Antioquia queriam agir por imposição, não respeitando o crescimento natural que os crentes precisam ter.
Diante desse quadro, o que temos em cena em Atos 15 então, e que é combatido por Paulo e Barnabé e depois pelos líderes de Jerusalém, é a imposição, e não a Lei de Deus em si!
Então foi decidido que os crentes gentios não deveriam ser circuncidados sob imposição, ou não deveria se impor a eles outros costumes da Torá que ainda não se sentiam preparados para praticar. Contudo, eles deveriam se abster de algumas coisas mais graves, que eram a idolatria, imoralidade sexual e o consumo da carne com sangue, para que tivessem acesso à comunidade de discípulos. A partir disso, então, eles iniciariam um processo de educação nas Escrituras e iam crescendo naturalmente, praticando os demais mandamentos do SENHOR.
Porém, estes versículos ainda nos enriquecerão com mais informações importantes que nem sempre são percebidas pelo público geral. É que no v. 21 Jacó afirma que “Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados.” Mas o que isso tem a ver com a conversão dos gentios? É óbvio que ele não falou isso em vão, você não acha?!
Consequentemente, se ele afirma que Moisés era lido todos os dias de shabat nas sinagogas, é porque era ali que aqueles discípulos gentios de Antioquia estavam sendo educados pelo povo de Israel nas Escrituras. Então o que eles deveriam fazer era continuar se submetendo a esse sistema de ensino ministrado pelo povo israelita e assim se aperfeiçoando na fidelidade a Deus.
Por fim, quando observamos o texto em seus pequenos detalhes, podemos perceber situações que não víamos antes devido a leituras descuidadas e ao bloqueio gerado na nossa mente com as interpretações já construídas nos meios religiosos ou grupos que não seguem a comunidade israelita, da qual faziam parte o Senhor e seus discípulos. E não era justamente por isso que o “apóstolo Paulo”, ou o rabino Shaul, lutava? Pela unificação dos gentios à comunidade de Israel, o povo escolhido por Deus? Vide Ef 2:11-13 (cf. At 15:14-18).
O que fazer a respeito de nossa relação com a Torá então?
Ora, é devido a todos estes fatos que propomos agora a todos os nossos leitores e crentes interessados em seguir a Deus corretamente, que retornemos aos caminhos que Ele transmitiu ao Seu povo israelita por meio de Sua bendita Lei (cf. Jr 6:16). E propomos isso, obviamente, da maneira como era no 1º século, no ambiente em que viviam os discípulos do Senhor, onde os crentes gentios se uniam às comunidades judaicas e aprendiam a Palavra através delas; porque aos hebreus Deus outorgou isso (vide Rm 9:4; 3:1-2; Dt 33:4; Sl 78:5; 135:4; 147;19).
Além do mais, foi deles que veio o Messias e consequentemente a nossa salvação (Jo 4:22). Deus escolheu a este povo para abençoar o mundo (Gn 12:1-3; Rm 11:12), e as profecias bíblicas sugerem aos gentios se unirem a eles, pois o próprio Deus está com eles (Zc 8:20-23).
Dito isso, concluímos que não podemos ficar criando movimentos religiosos independentes conforme nosso próprio gosto (cf. Dt 12:8-9).
Nós temos nos unido e sido orientados pela Comunidade Judaica Netzari, os quais cremos serem os seguidores íntegros do Messias, os preservadores de sua identidade e mensagem original hebraica/israelita/judaica.
Finalmente, é claro que tínhamos muito mais a abordar acerca deste assunto, porém falamos de poucos detalhes, e mantivemos nosso foco em destacar a prática de se estudar a Torá através das porções semanais nos sábados de manhã (shabat), porque é através dessas porções, principalmente, que podemos ser educados novamente na Lei do Eterno.