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Deuteronômio Parashá

Resumo da Parashá Vaetchanan (Deuteronômio 3:23 até 7:11)

A Parashá Vaetchanan (“eu implorei”) vai de Deuteronômio 3:23 até 7:11. Ela começa quando Moisés descreve sua súplica a Deus para ser permitido na Terra de Israel (3:23-29). Ele também adverte os israelitas a não seguirem a idolatria (4:15-20) e relata a entrega dos Dez Mandamentos (4;10-14). A porção contém ainda o Shema (6:4), uma declaração de fé e um texto central na oração judaica, por isso, é uma das porções da Torá mais importantes.

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O monoteísmo de Israel: Deus é um só!

O discurso de Moisés abordado na Parashá Vaetchanan é repleto de ensinamentos acerca da fé monoteísta que o povo de Israel deveria ter.

Por “monoteísta”, entendemos a crença no único Deus verdadeiro, vivo e existente!

Em 3:24 o profeta confessa que não há outro Deus, a não ser o de Israel. Em 4:3-4 Moisés relembra ao povo que o Eterno exterminou os que serviam à divindade chamada Baal, provando que esta nenhum poder tinha.

Já no v. 7 deste mesmo capítulo, o servo de Deus recorda ao povo que nenhuma outra nação tinha um Deus como ADONAI, que estava sempre perto de seu povo quando precisavam de sua ajuda. Nem mesmo no decorrer da história fora registrado um Deus que foi libertar uma nação de outra, e tornar dos libertos o seu povo (vide 4;32-39).

Nos versículos 15-20 do capítulo 4 nós entendemos que os seres humanos são responsáveis pelos ídolos que criam. Na verdade, não existem outros deuses, no entanto a imaginação humana dá lugar a eles quando aparta seu coração do Deus vivo! (vide v. 28) Mas Moisés recorda que os israelitas são a nação que Deus escolheu, por isso deveriam prestar culto somente a Ele.

Nos vs. 16-18 e 23-24 lemos que nenhuma imagem deveria ser feita para ser adorada. Justamente por isso Moisés destaca que nenhuma figura de Deus foi vista no Sinai, quando Ele se revelou para eles (4:15). Portanto, adorar imagens esculpidas ou pintadas é um grave pecado contra o Todo Poderoso! Quem faz isso não pode se considerar um povo que está representado a Deus, o Criador, pois está desobedecendo diretamente um mandamento Dele.

Nos vs. 29-31 nós vemos que se o povo pecasse ao abandonar o Eterno, seu Deus, sofreriam duras consequências e seriam dispersos de sua terra. Porém ainda assim Deus promete preservar um remanescente do povo e reconstruir a nação, simplesmente por ser misericordioso e fiel para manter a aliança que fez com os antepassados dos israelitas.

“Shema, Israel”.

O capítulo 6 de Deuteronômio é sem dúvida um dos mais importantes da Bíblia Sagrada. Enquanto Ieshua, o ungido, era tentado, por exemplo, cita dois textos deste capítulo para contestar o inimigo.

  1. Mat. 4:7 > Deut. 6:16;
  2. Mat. 4:10 > Deut. 6:13.

Além do mais, Deuteronômio 6:4 contém o que foi confirmado por ele como sendo o principal ou maior mandamento das Escrituras. Mas das traduções bíblicas comuns (especialmente as cristãs) até o momento só encontrei uma que acertou na tradução deste texto, que é a Versão Fácil de Ler; ele diz:

— Ouça, ó Israel, o SENHOR é o nosso Deus. O SENHOR é só um.

As demais traduziram algo como: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Porém, a palavra “senhor” nem sequer aparece no texto original. O que temos é este título sendo usado em substituição do Nome de Deus.

Em Marcos 12:28-32, lemos um discurso do Mestre com um dos doutores da Torá. No v. 29 o Senhor Ieshua reafirma que ADONAI é nosso Deus, e Ele é um só! Porém aqui só a Tradução Brasileira acerta a tradução do texto.

A distorção de tal texto nas traduções colaborou para que doutrinas solapadas às Escrituras fossem introduzidas na fé do mundo inteiro.

O relacionamento de Deus com Seu povo.

Deus é realmente de ser lavado a sério, pois Ele tem princípios, estabelecidos por Ele mesmo que devem ser seguidos.

O Seu profeta escolhido, Moisés, cometeu um vacilo em determinado acontecimento com o povo israelita, e isso acabou deixando-o de fora da terra prometida (vide Nm 20:2; Dt 3:26-28). Não obstante este fato triste ter acontecido, aqui aprendemos preciosa lição: imagina o que aconteceria se Moisés não tivesse preparado um sucessor para liderar o povo em seu lugar? Isso nos ensina que devemos compartilhar nossos talentos com as pessoas também, e fazê-las crescer para com Deus assim como nós. Mas obviamente, isso se aplica em outros setores da vida.

Outro fato muito importante que identificamos aqui é a fidelidade na preservação do texto bíblico que os servos de Deus deveriam ter ao longo do tempo, veja Dt 4:2, onde Moisés afirma que nenhuma palavra que ele ensinou deveria ser aumentada ou subtraída.

Ou seja, com isso Moisés está dizendo que haveria sim a possibilidade de uma adulteração das Escrituras, entretanto elas chegaram até nós fidedignamente preservadas. Referindo-se ao Tanakh, houveram falhas, mas não adulteração!

Nós lemos ainda que é dever do ser humano transmitir o conhecimento bíblico para as próximas gerações, cada um ensinando em particular em casa, à sua própria família, bem como em comunidade (vide 4:9-10; 6:6-9).

Dentro deste assunto, Moisés destaca a importância das dez palavras (dez mandamentos), alegando que estes eram a aliança de Deus com Seu povo (4:13).

Além disso, em 4:5-6 nós vemos que essas leis de Deus são sábias, fiéis e justas. Quando as outras nações vissem os israelitas praticando tais mandamentos, reconheceriam sua sabedoria e boa instrução (cf. v. 8). Aqui está o problema em alguns ciclos religiosos ao dizerem que a Lei de Deus tornou-se obsoleta, quando na verdade ela se renova e é aplicável em cada geração, dentro de suas devidas circunstâncias, veja um exemplo em 1 Coríntios 9:9-11.

As dez palavras (dez mandamentos).

A partir do capítulo 5 de Deuteronômio Moisés relaciona para o povo novamente as dez palavras, isto é, os dez mandamentos. Ele não poderia deixar de falar da parte central da Torá (instrução) de Deus para o seu povo.

Ele inicia seu discurso destacando que estes mandamentos fazem parte de uma aliança de Deus com seu povo, portanto não poderiam ser revogados! (Dt 5:1-5)

Em resumo, os dez mandamentos são:

  1. ADONAI é o Deus de Israel (v. 6);
  2. Não praticar idolatria (vs. 6-10; cf. 6:13-15);
  3. Não usar o Nome de Deus em vão ou com falsidade (v. 11);
  4. Santificar o dia do shabat (7º dia da semana do calendário hebraico, que começa no pôr do sol da sexta feira e termina ao anoitecer do sábado), vs. 12-15;
  5. Honrar/respeitar o pai e a mãe (v. 16);
  6. Não assassinar (v. 17);
  7. Não cometer adultério (v. 18);
  8. Não roubar (v. 19);
  9. Não proferir falso testemunho (fofoca, mentira, etc.), v. 20;
  10. Não cobiçar o cônjuge nem os bens do próximo (v. 21).

Enquanto Deus dava essa palavra ao povo, fenômenos aconteciam no monte Sinai. Temendo continuar ouvindo a voz de Deus (literalmente) e morrer, os líderes de Israel pedem que Moisés ouça e depois transmita ao povo. Isso pareceu bom para Deus, ou seja, que o povo o respeitasse e temesse (5:23-28).

Neste ponto, precisamos destacar que todos os mandamentos continuam a ser reproduzidos e praticados pela comunidade de discípulos do Senhor, do contrário do que é afirmado em certas religiões. Segue abaixo uma breve lista de referência.

  1. Lc 4:8; Jo 17:3; 1 Co 8:5-6.
  2. Rm 1:25; 2 Co 6:16; 1 Jo 5:21.
  3. Mt 5:33+; Tg 5:12.
  4. Lc 23:55-56. At 13:14-15; 16:13; 17:2; 18;4.
  5. Mt 15:4-6; Ef 6:2.
  6. Mt 19:18; Rm 13:9; Tg 2:11.
  7. Lc 18:20.
  8. Ef 4:28.
  9. Mc 10:19; Tg 4:11.
  10. Lc 12:15; Rm 7:7; Hb 13:5.

A seguinte obra é recomendada para estudos elementares da Lei de Deus: Iniciação ao estudo da Torá, por Auro del Giglio. Editora Sefer:

Haftará (porção dos profetas): Isaías 40:1-26.

A porção dos profetas lida junto com a Parashá Vaetchanan está em Isaías 40:1-26. Aqui lemos lados opostos da história de Israel.

Enquanto em Deuteronômio 5 Moisés encontra-se com uma caravana de Israel que foi liberta pelo próprio Deus do Egito antigo para adentrar à sua própria terra, em Isaías 40, por outro lado, lemos que o próprio Deus envia Seu povo para o cativeiro, mas obviamente por causa de sua infidelidade. Ou seja, por um lado Deus promete libertação do cativeiro a que inimigos subjugaram Israel, por outro Ele promete libertação do cativeiro que Ele mesmo causou.

Aqui vale destacar ainda a misericórdia do Eterno para com seu povo, pois ele perdoa essas infidelidades e restaura-os (v. 2).

Os vs. 3-5 parecem uma chamada para o povo consertar-se de seus erros para receberem o Todo Poderoso. Mais tarde, porém, os essênios se identificam com tal profecia e vão para os desertos de Qumran, entendendo que o tempo da manifestação do Messias de Israel estava próxima. Além disso, João (Yorranan), o imersor, filho de Zacarias, atribui essa profecia a si mesmo, declarando que ele estava preparando o povo para a vinda do Ungido (Jo 1:23)..

Nos vs. 6-8 de Isaías 40 temos uma declaração de que a palavra (as promessas) do Eterno são firmes, se cumprirão e permanecem para sempre. Isso é recitado por Simão em 1 Pe 1:24-25. O mestre Ieshua também recita palavras semelhantes em Mc 13:31.

Dos vs. 9-11 nós continuamos a ver palavras do cuidado de Deus para com Seu povo, e a importância de Sião (uma referência a Jerusalém), a cidade de onde Ele governará o mundo!

Os vs. 12-17 exprimem a grandeza de Deus sobre todas as nações e sua sabedoria.

Aqui, porém, não podemos deixar de dar destaque especial ao v. 13, que em muitas bíblias foi traduzido assim:

Quem guiou o Espírito do Senhor? Ou, como seu conselheiro, o ensinou?

Esse tipo de tradução (Espírito do Senhor) acabou sendo mal interpretada quando doutrinas distorcidas a respeito de Deus surgiram após o tempo de Ieshua e seus discípulos, quando certos teólogos greco-romanos começaram a assimilar Deus sendo dividido em “três pessoas” diferentes.

Porém, na Septuaginta, a primeira tradução grega das Escrituras Hebraicas, que foi feita por volta do ano 280 AEC, a palavra original hebraica “ruah” foi traduzidA por “noun”, isto é, mente. E isso acabou se refletindo nas cartas de Paulo, veja Rm 11:34 e 1 Cor. 2:16.

Logo, o versículo simplesmente está dizendo que ninguém jamais poderia ter sabedoria maior que a de Deus.

Por fim, os vs. 18-26 se assemelham a Deuteronômio 4:32-34, lidos na Parashá Vaetchanan, no que diz respeito a comparação do Eterno com os deuses em que acreditavam as nações, e exalta-o acima deles.

Leitura diária da Parashá Vaetchanan.

Por fim, recomendamos a seguinte leitura diária da porção Vaetchanan:

Por Gabriel Filgueiras

Nascido em fevereiro de 1989, natural de Magé, RJ. Formado em teologia pela Faculdade da 2ª Igreja Batista de Rio das Ostras (RJ); estudante da Bíblia em seu contexto original judaico com a Comunidade Judaica Netzarim do Pará, sob orientação do professor de Torá e rosh (líder de comunidade) Yoná Sibekhay. Sou um monoteísta gentio em busca do conhecimento do Sagrado e Divino através das Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada. Para mais informações, visite a página "Sobre" no Blog bibliaseensina.com.br.

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