No 2º ano do ciclo trienal de leitura da Torá em porções, a Parashat (porção) Miketz abrange o texto de Gênesis 41:53 até o capítulo 43 e versículo 15. Este trecho aborda o início de uma crise de fome em vários países do oriente na época em que José, o filho de Jacó, estava no Egito e o governava (abaixo do Faraó). Também relata como foi o encontro dele com seus irmãos, que foram até as terras egípcias a fim de buscar comida para sua família.
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Sugestões de leituras diárias para a Parashat Miketz no 2º ano do ciclo trienal de leitura.
- Segunda: Gênesis 41:53 até 42:17.
- Terça: 1º Reis 3:15 até 4:1.
- Quarta: Atos 7:8-15; adicionalmente, Lucas 24:13-49.
- Quinta: Gênesis 42:18 até 43:15.
- Sexta: Estudo bíblico para o shabat, geralmente relacionado à criação (ainda em construção por aqui).
- Sábado: Conforme costume bíblico, no sábado pela manhã se faz leitura de toda a porção da Torá em comunidade ou em família (vide Lc 4:16, Atos 13:14-15, 15:21 etc.).
Os anos de fome começam no oriente médio.
O texto de Gênesis 41, a partir do versículo 53, aborda o início da crise de fome que aconteceu em todo oriente médio, inclusive no Egito antigo, onde estava José, o filho de Jacó com Raquel. Nesta altura ele já administrava toda a terra para o Faraó e já havia feito provisões para sobreviver a este período que duraria pelo menos 7 anos.
Nesta época José tinha 38 anos de idade, era o ano 2237 da criação, e seu pai tinha 129 anos. Isto corresponde, aproximadamente, ao ano 1657 AEC (acesse nossa planilha cronológica bíblica em biblia.pro.br/pcb – em construção).
Houve então fome em toda região próxima ao Mar Mediterrâneo, mas por certo tempo havia comida no Egito, até que começou a faltar lá também.
Depois que começou a faltar comida nas terras egípcias, José então abriu os armazéns e começou a vender para todos os egípcios e demais estrangeiros que vinham também (Gn 41:53-57).
Este trecho nos mostra que nosso mundo está sujeito a passar por épocas de crise, como cada um de nós já deve ter presenciado uma ou mais. Também nos revela que até mesmo os servos mais fiéis de Deus vivenciam esses momentos; porém, o Soberano (bendito seja Ele) geralmente revela aos seus escolhidos que momentos difíceis estão por vir, e assim dá a eles a oportunidade de se prepararem.
De que forma temos vivido cada dia? Guardamos provisões para momentos maus ou simplesmente gastamos todos os nossos recursos com coisas fúteis, achando que nunca vamos atravessar momentos de aperto e dificuldade, enganando assim a nós mesmos?
Quando as coisas forem bem, divirta-se; mas, quando forem mal, considere que Deus fez uma coisa e outra, para que as pessoas não saibam nada sobre seu futuro.
Kohelet [Eclesiastes] 7:14 – Bíblia Judaica Completa
Os irmãos de José vão para o Egito.
Em Gênesis capítulo 42 lemos como foi o reencontro de José com seus irmãos, que foram em busca de alimento no Egito sob ordenança de seu pai.
José tinha 17 anos quando foi enviado para lá (Gn 37:2), e agora, aos 38, cerca de 22 anos depois, chega o momento de reencontrar seus irmãos e ver as revelações que Deus havia lhe dado em sonhos se realizarem.
Em Gn 42:2 lemos que a crise era tão severa que a família de Jacó corria o risco de morrer de fome. Quem sabe isso tenha acontecido com várias pessoas ou famílias que não tiveram condições de imigrar para outros lugares em busca de comida.
A notícia de que havia alimento no Egito se espalhou pelo oriente, por isso Jacó envia seus filhos para lá (vs. 1-3). Outras pessoas também foram para o Egito junto deles, mas o caçula de Jacó, Benjamin, não foi, pois seu pai temia perdê-lo como pensava ter acontecido com José (vs. 4-5).
Agora, dos versículos 6 até 9 lemos finalmente o cumprimento das revelações divinas que José recebeu em sonhos, a cerca de 22 anos antes daquele momento. O texto nos informa que José, ao ver seus irmãos chegando para comprar trigo e se inclinando diante dele, se lembra dos sonhos que tivera (v. 9).
Este trecho também é interessante porque nos informa que José fala de forma áspera com seus irmãos assim que os vê, indicando que, até aquele exato momento, ele ainda deveria ter alguma mágoa no coração contra eles, que não o reconheceram quando o viram (vs. 7-8). José então decide “jogar” com seus irmãos e os trata como se fossem espiões inimigos.
Isso nos ensina que todos nós que tememos a Deus também estamos sujeitos a sofrer mágoas da parte dos outros, e que estas mágoas podem ficar alojadas em nossos corações durante muito tempo, nos causando reações ruins diante de determinados momentos que despertam aquele mal sentimento. Por isso, é importante darmos valor aos nossos sentimentos e nos tratarmos para que os ressentimentos da vida não venham causar prejuízos maiores à nossa saúde mental e ao nosso equilíbrio emocional.
Mais a frente, conforme conhecemos a história, veremos que José, devido seu temor a Deus, permitiu a si mesmo ser curado ao perdoar os erros de seus irmãos.
Se você sofre de ressentimentos por não conseguir perdoar alguém, leia o estudo “Como liberar perdão sincero” em nosso Blog Bíblia se Ensina.
José prende seus irmãos.
Depois de serem tratados de forma áspera por José no Egito, e sob a acusação de serem espiões inimigos, os irmãos de José tentam se defender e contam que tinham um pai que tivera 12 filhos, dos quais um havia se perdido ou estava morto (Gn 42:10-13).
Em resposta à confissão dos irmãos, que certamente estavam preocupados com seu pai devido a falta de alimento em sua terra, José se aproveita das palavras deles e os compromete a trazerem o irmão deles, Benjamin, para que ele verificasse se eles falavam a verdade ou não. Na verdade, José já estava testando seus irmãos, para ver se eles agiriam com Benjamin da forma que agiram com ele no passado. Ele certamente queria verificar se seus irmãos haviam se arrependido do mal que lhe causaram ou não.
Neste ponto aprendemos que em certas situações da vida podemos estar do lado de José ou do lado dos irmãos dele. Então, de um lado, como tratamos aquelas pessoas que nos causaram mal em algum momento do passado? Mesmo se quisermos fazer como José, testando com alguma situação a sinceridade daquelas pessoas, fazemos isso com a intenção de recuperá-la no final das contas ou simplesmente para lhe fazer mal? Reflita em Pv 20:22 e Rm 12:17-21.
Do outro lado, no lugar dos irmãos de José, quando fomos nós que ferimos alguém e depois de um tempo começamos a atravessar situações que nos façam de alguma forma pagar por nossos erros, demonstramos arrependimento sincero com mudança de atitude, ou simplesmente ignoramos aquele mal que causamos no passado e continuamos a viver conforme nossa má conduta, pisando no sentimento dos outros?
Por fim, os irmãos de José ficaram presos durante três dias e assim tiveram tempo para refletir no que estava acontecendo e tomar alguma decisão. Eles assimilaram aquele momento ao que haviam feito a José no passado, e se lembraram de seu sofrimento naquela ocasião, por isso entenderam que estavam pagando por seus erros (vs. 17-22).
José falava com seus irmãos na língua nativa do país, provavelmente o egípcio médio, e um intérprete traduzia o que José falava.
Entretanto, José utilizava isso como disfarce para enganar seus irmãos e testá-los, pois ele entendia tudo o que conversavam, que provavelmente era na língua hebraica, o idioma em que a Bíblia foi escrita, ou no máximo no aramaico, um idioma, digamos, “irmão” do hebraico. Ao ouvi-los, portanto, José não pôde se conter e retirou-se para chorar (vs. 23-24).
O choro é algo que cura. Assim como existem os momentos de sorrir, também existem momentos em que devemos chorar. Quando derramamos nossas lágrimas em certas situações, colocamos para fora os ressentimentos escondidos no profundo de nosso ser, e nos permitimos experimentar a cura e a renovação emocional para novamente sentirmos alegria no viver.
Por fim, José adverte a seus irmãos que fizessem o que ele havia dito, ou seja, voltarem à sua terra e trazerem consigo seu irmão mais novo para confirmarem a veracidade de suas palavras. Depois disso José não os trataria mais como espiões inimigos, que na verdade foi uma cena que ele criou para provar a seus irmãos (vs. 19-20,24).
José então escolhe Simão para ficar preso, enquanto os outros voltariam para seu pai e trariam Benjamin com eles na próxima viagem. Ele também envia com eles trigo, e coloca de volta em suas bolsas o dinheiro que haviam pago pelos produtos.
Eles ficaram assustados quando viram que o dinheiro havia sido devolvido, e de alguma forma concluíram que Deus estava agindo naquela situação (vs. 24-28).
Às vezes, mesmo quando erramos, Deus nos faz sofrer algum mal devido nossos erros, no entanto Ele é misericordioso e prepara toda situação para que aprendamos lições com o que sofremos. Como temos recebido a disciplina de Deus? Leia Hebreus 12:5-13.
Jacó fica sem seu filho mais novo.
Ao retornarem para seu pai, os irmãos de José contaram tudo o que havia acontecido com eles no Egito, a forma que o governador egípcio (José) lhes falou tão duramente e os tratou como espiões da terra. Também contaram a Jacó que haviam confessado ter um irmão mais novo, que estava com seu pai em Canaan e que o governador havia deixado um deles preso, enquanto os outros deveriam retornar à sua terra e levar consigo seu irmão mais novo de volta ao Egito, a fim de que a sinceridade de suas palavras fossem verificadas.
Além disso, depois que Jacó notou a ausência de Simão e viu que o dinheiro deles havia sido devolvido, ele e seus filhos ficaram com medo, pois talvez estivessem pensando que o governador egípcio estava tramando algum mal contra eles sob acusação de roubo. O patriarca dos israelitas então se queixa contra os 9 de que estava ficando sem filhos, pois já estava sem José, agora sem Simão e ainda queriam levar Benjamin, o único filho de Raquel que ele tinha consigo naquele momento (Gn 42:29-36).
Seu filho primogênito então, Ruben, que antes havia tentado livrar José de seus irmãos (Gn 42:22), diz uma palavra que, sinceramente, não deve ter sido de alívio para Jacó naquele momento. Ele afirma ao seu pai que poderia até mesmo matar dois de seus netos, isto é, os filhos de Ruben, caso levasse Benjamin e não voltasse com ele para casa. No entanto, Jacó, naquele momento, se recusa a deixar ir seu filho (vs. 37-38).
Entretanto, devido a falta de comida, ele se vê obrigado a ordenar que seus filhos voltassem para o Egito afim conseguir o que comer (Gn 43:1-6).
Desta vez, Judá foi o intermediário para assegurar o retorno de Benjamin ao seu pai, caso o deixasse partir (vs. 7-10). Como eles se recusaram a ir sem Benjamin devido a exigência do governador egípcio em vê-lo, então Jacó teve que deixá-lo ir. Porém, o pai de José tem a ideia de enviar com seus filhos alguns presentes e mais dinheiro para o Egito. Ele queria com isso apaziguar o governador. Além disso, Jacó também demonstrou que sua única escolha era confiar em Deus para que protegesse seus filhos (vs. 11-14).
Algumas vezes as situações de crise fogem do nosso controle. Nestes casos, por mais difícil que seja, devemos respirar fundo e não ceder ao desespero, mas confiar na provisão do Todo Poderoso, fazendo o que está ao nosso alcance para resolver os problemas, mas confiando que, o que não está ao nosso alcance, o Fiel terá misericórdia e nos ajudará.
Assim, os filhos restantes de Jacó partiram em busca de mais comida no Egito, levando consigo seu irmão mais novo e os presentes para o governador (v. 15).
Desta forma é concluída a leitura da Parashat (Porção) Miketz, no 2º ano do ciclo trienal de leitura da Torá.
Agora, quem diria que os irmãos de José, mais de 20 anos depois de terem vendido ele como escravo, passariam por todo este aperto e sofreriam tais angústias, relembrando-se do que fizeram ao seu irmão.
Todos somos seres humanos e cometemos erros na vida. Às vezes as consequências por nossos erros vêm de imediato, ou podem levar até muitos anos para chegar. O momento de encarar essas consequências é realmente difícil e doloroso, mas é nesta hora que precisamos demonstrar mudança de comportamento em nossas atitudes, pois o enfrentamento de tais consequências são as chances que temos de nos consertar.