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Parashat Noach – 2º ano do ciclo trienal: Gênesis 8:15 – 10:32

Após o grande dilúvio que deu fim a toda vida sobre o solo,a partir de Gênesis 8:15, que dá início ao 2º ano do ciclo trienal da Parashat (porção) Noach, Deus finalmente ordena Noé sair da arca com sua família. vs. 16 e 17 de Gênesis 8, Deus finalmente anuncia o recomeço da vida humana e animal sobre a terra.

O v. 20 relata que, logo assim que saiu da arca, Noé oferece sacrifícios de animais puros a Deus. Depois disso, Deus decide nunca mais destruir o ser humano como havia feito dessa vez (vs. 21-22).

Leituras diárias sugeridas para a Parashá Nôah, no 2º ano do ciclo trienal, que vai de Gênesis 8:15 até 10:32.

A aliança universal de Deus com a humanidade.

sky with rainbow over rippling blue ocean
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Em Gênesis capítulo 9:1-7, finalmente lemos a respeito da famosa aliança universal de Deus com a humanidade, isto é, com cada ser humano, e de todas as nações.

Aqui Deus dá mandamentos e princípios que todas as pessoas deveriam obedecer, enquanto cresciam e se multiplicavam sobre a Terra. Noé e seus filhos deveriam transmitir tais ensinamentos para as gerações seguintes.

Estes mandamentos têm sido objeto de estudo ao longo do tempo, e diversos sábios do povo judeu já fizeram comentários e escreveram livros a respeito deles, a fim de proporcionar orientação aos não judeus; embora o estudo de tais mandamentos seja ignorado ou pouco valorizado por não pequena parte do mundo religioso a fora. Mas estes ensinamentos, bem como suas ramificações, é que devem reger a conduta de todos nós que não somos judeus ou israelitas (descendentes dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó). 

Alguns deles são repetidos, por exemplo, pela liderança da comunidade de discípulos de Jesus, em Atos 15:19-21. Ali é determinado que os discípulos estrangeiros (não judeus) se inserissem nessa aliança primeiro, que inclui um padrão mínimo de obediência a Deus, a fim de que pudessem ter acesso às suas comunidades de modo adequado. 

Enquanto isso, eles deveriam continuar participando, voluntariamente, de um processo de aprendizagem dos demais mandamentos bíblicos junto com as lideranças do povo de Israel, nas reuniões de suas sinagogas. O livro bíblico dos Atos tem várias menções deste cenário, que já existia naquela época. Os não judeus que frequentavam as sinagogas judaicas geralmente eram chamados neste livro de “os tementes a Deus”; veja, por exemplo, capítulo 13:16,26, 16:13-14, 17:17, 18:4 etc. Nas Escrituras, eles também eram mencionados assim, veja o Salmo 115:11-13, por exemplo.

Com tal método de ensino pessoal, voluntário e gradativo, sob a orientação dos líderes de Israel, os não judeus (gentios) poderiam evoluir na prática de outros ensinamentos divinos com naturalidade, sem a necessidade de serem coagidos a obedecer mandamentos que foram ordenados só aos judeus, conforme os versículos iniciais de Atos 15 mencionam.

Vale lembrar neste ponto que, embora cada pessoa possa praticar coisas boas mesmo sem ter recebido uma instrução determinada, mas somente sendo dotadas de princípios naturais à vida (Rm 2:14-15), o Criador entregou suas leis e ensinamentos de forma completa ao povo de Israel (ou aos judeus), que são o Seu povo específico, veja Deuteronômio 7:6, Salmo 147:19-20, João 4:22, Romanos 3:1-2 e 9:4

Por isso, hoje em dia, aconselhamos às pessoas que querem obedecer melhor a Deus se instruírem com mestres e educadores deste povo (isso, porém, não impede a cada um de se auto instruir por meio da Bíblia, sob a inspiração divina). Por isso, e particularmente, não apoiamos mais a orientação nas leis divinas por meio de qualquer outra religião. Porque, embora estas possam apresentar ensinamentos corretos (pois estão ensinando a Bíblia afinal de contas), junto destes há diversas distorções de costumes e crenças ensinados por Deus na Bíblia, infelizmente, e que, devido à formatação de determinadas teologias padrões no mundo religioso, e o modo com que as traduções bíblicas foram feitas ao longo da história, mal se percebem. 

E para responder aos questionamentos contrários a este formato, era exatamente assim que viviam os estrangeiros que se tornaram discípulos de Jesus no 1º século de nossa era. Basta entender o contexto de Atos capítulo 15, concluindo pelo v. 21. Porque, se a questão abordada ali era se os crentes estrangeiros (gentios) seriam logo circuncidados e assim guardariam todos os outros preceitos da Lei de Moisés (de Deus) de imediato à conversão ou não, e é dito no referido versículo que “Moisés é lido” todo dia de sábado nas sinagogas, é porque era nelas, neste dia, que estes discípulos gentios estavam inseridos aprendendo as leis divinas. 

Ou seja, era este modelo de ensino que os discípulos diretos de Jesus recomendaram para os crentes não judeus, isto é, que eles deveriam primeiro se adaptar a um padrão mínimo de obediência (o da aliança universal), e depois, estando inseridos nas comunidades do povo de Israel, evoluir na obediência de forma gradativa e natural. Outros versículos comprovam isso, como Atos 21:19-25, Romanos 11:16-18, Efésios 2:11-14 etc.

Por fim, as pessoas tementes a Deus que procuram obedecer Suas leis para as nações, ficaram conhecidas no meio judaico ao longo da história como “bnei Noach“, que literalmente traduzido seria “filhos de Noé”. Outro termo também seria “monoteístas gentios”, ou seja, crentes não israelitas que exercem fidelidade ao Deus de Israel dentro deste grupo de mandamentos, e que acreditam que Ele é um só, e o único Deus vivo, verdadeiro e existente.

Eu já escrevi outros estudos acerca destes assuntos no Blog Bíblia se Ensina. Você pode conferir os seguintes:

Basicamente, os 7 mandamentos da aliança universal de Deus com Noé (com a humanidade) são:

  1. Não praticar idolatria. O homem deveria refletir a “imagem” (características) do Deus único e verdadeiro na natureza e para a humanidade: Gn 1:27; 9:6b.
    1. Isso inclui não criar outros deuses nem praticar idolatria.
  2. Cuidar do mundo. Usar da inteligência dada por Deus para governar, administrar e cuidar da criação: Gn 1:26; 9:2.
  3. Formar família (“sejam fecundos”): Gn 1:28; 9:1,7.
    1. Isso inclui ao pai ser fiel à sua mulher, e vice-versa, além de cuidar da família; aos filhos honrarem e obedecerem a seus pais, e outros valores semelhantes (cf. Cl 3:18-21).
  4. Formar civilização (“multipliquem-se e encham a terra”): Gn 1:28; 9:7.
    1. Isso não inclui respeitar o espaço e as conquistas um do outro?
  5. Criar sistemas de governo e de juízo enquanto administra corretamente o mundo: Gn 1:28b; 9:7b.
  6. Não comer carne com sangue: Gn 9:4-5.
    1. Isto é, não comer o animal enquanto ainda estivesse vivo. O abate deveria acontecer antes para o animal não ficar sofrendo, e seu sangue deveria ser escorrido.
  7. Não assassinar: Gn 9:6; dentre outros.
    1. Isso inclui, naturalmente, respeitar a vida e a integridade de seu semelhante. 

É claro que se formos mais à fundo em cada mandamento e explorar a vida de Noé e seus ascendentes também monoteístas, teremos outros valores para extrair disso. Porém, um conteúdo mais extenso exigiria uma página exclusiva para o tema, do qual livros já foram escritos para explicar, como As 7 Leis Universais, Guia Para Uma Vida Espiritual Plena, do HaRav Yoel Schwartz.

Por fim, Deus conclui sua aliança com toda humanidade prometendo não trazer mais as águas do dilúvio no mundo. Ele colocou um arco nas nuvens a fim de lembrar disso para sempre (vs. 12-17).

Os vs. 18-28 de Gênesis 9 narram o episódio em que um dos filhos de Noé o desrespeita enquanto ele se encontrava nu e bêbado. 

O patriarca havia bebido vinho, se embriagado e ficado nu dentro de sua própria tenda. Seu filho Cam o viu neste estado, o que indica que ele entrou sem permissão na tenda do pai. Ele relata o caso aos seus irmãos, provavelmente com deboche e desrespeito, mas eles não lhe dão ouvidos e vão cobrir a nudez de seu pai.

O v. 25 relata que, devido o desrespeito de Cam, Noé amaldiçoa seu filho, Canaan, afirmando que este seria servo de seus irmãos para sempre. Essa profecia se cumpre nos descendentes dele, os povos da terra de Canaan, os quais foram vencidos por Moisés e Josué quando conquistaram quase todo o território de Canaan para Israel (cf. Êx 6:4; Nm 32:31-33; Js 14:1+).

Mas essa história não se resume a isso. A título de curiosidade, o Livro dos Jubileus, uma obra preservada pelos essênios e encontrada entre as descobertas dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947, conta motivos adicionais do porquê Deus ter ordenado exterminar os povos de Canaan.

Em Lv 18:24-25+ e Dt 9:5, as Escrituras mencionam que Deus os estava expulsando de lá devido suas grandes maldades. Porém, do capítulo 8:8 até 9:15 do Livro dos Jubileus, é narrado que os filhos de Noé repartiram terras entre seus filhos (os netos e bisnetos de Noé). Eles selaram essa divisão por meio de uma maldição sobre quem procurasse invadir o território do outro (9:14). 

Acontece que Canaan e seus filhos, por meio de uma revolta, possuíram o território de Sem, patriarca dos israelitas, veja cap. 10:28-34. Os irmãos dele o recordam da maldição que pronunciaram se isso acontecesse, e profetizam que por meio de uma revolta os descendentes de Canaan seriam tirados novamente daquela terra se não fosse desocupada logo. Por fim, foi o que aconteceu por meio dos dois primeiros grandes líderes de Israel.

O capítulo 10 de Gênesis é dedicado a descrever os territórios que os descendentes dos filhos de Noé possuíram e quais nações vieram deles.

Por Gabriel Filgueiras

Nascido em fevereiro de 1989, natural de Magé, RJ. Formado em teologia pela Faculdade da 2ª Igreja Batista de Rio das Ostras (RJ); estudante da Bíblia em seu contexto original judaico com a Comunidade Judaica Netzarim do Pará, sob orientação do professor de Torá e rosh (líder de comunidade) Yoná Sibekhay. Sou um monoteísta gentio em busca do conhecimento do Sagrado e Divino através das Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada. Para mais informações, visite a página "Sobre" no Blog bibliaseensina.com.br.

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